1 - Introdução
A
execução dessa pesquisa baseou-se no levantamento das potencialidades
do meio físico, utilizando como base cartográfica, especialmente
os trabalhos feitos pelo Projeto RADAMBRASIL e o Macrozoneamento Geoambiental
do Estado de Mato Grosso do Sul.A
proposta de zoneamento das potencialidades paisagísticas foi feita
a partir da utilização de imagens de satélite LANDSAT
TM, que, após tratamento digital, acompanhado de trabalhos de campo,
permitiram definir cada unidade paisagística.
2 - Delimitação
da área e informações sobre o objeto de pesquisa
Para
facilitar os estudos da área escolhida, optou-se por fazer recorte
de uma quadrícula, compreendida pelos paralelos de 21º 00’
(7677 UTM) a 21º21’30” S (7638 UTM) e os meridianos de 56º25’
(560 UTM) a 56º45’45” W (524 UTM).Em
termos de extensão, a quadrícula compreende aproximadamente
1.420 km2, adentrando em sua porção sudoeste no
município de Porto Murtinho.Chamar-se-á
a área de "região de Bonito" por compreender o entorno do
núcleo urbano de mesmo nome. O
Município de Bonito faz parte da Microrregião Geográfica
de Bodoquena (MRG 09), localizado no sudoeste de Mato Grosso do Sul, com
a sede do município localizada nas coordenadas 21º 07’ 16”
de Latitude Sul e 56º 28’ 55” de Longitude Oeste.Possui
uma área total de 4 947,90 km2, correspondendo a 1,40%
das terras do Estado.Bonito faz
limite com os municípios de Bodoquena (N e NO), Miranda (N), Anastácio
(NE), Nioaque (L), Guia Lopes da Laguna (SE), Jardim (S) e Porto Murtinho
(SO e O).De acordo com dados do
IBGE (1996), o município abriga uma população residente
de 15.252 habitantes, o que corresponde a uma densidade demográfica
de 3,083 hab/km2. O
núcleo urbano do município está a 250 km da capital
do Estado, Campo Grande.Quatro rodovias
principais interligam Bonito à Campo Grande e aos demais municípios
do Estado:BR-262, MS-345, MS-382
e MS-399. 3
- As unidades de paisagem e o zoneamento geoecológico
Concebendo-se
que a natureza, sob o modo de produção (ou exploração?)
capitalista, não é concebida apenas como uma fonte de recursos
necessários à sobrevivência humana, e sim como fonte
de riquezas passíveis de gerar lucros, ela está efetivamente
subjugada aos anseios de quem dela se apropria. As
transformações na dinâmica do meio, pós intervenção
humana, resultam sempre em perdas para o sistema natural, ao mesmo tempo
em que um novo agente passa a fazer parte desse sistema.Essa
ruptura do equilíbrio das forças naturais, funciona como
uma descontinuidade no sistema evolutivo natural da paisagem, isto é,
o agente antrópico agora integrante da paisagem, passa a comandar
sua evolução, impondo-lhe uma neodinâmica, de
acordo com a função desempenhada pela paisagem.A
paisagem, regida apenas pelas leis naturais, evolui numa dinâmica
passível de se prognosticar, mesmo para um período longo.Já
sob as leis sócio-econômicas, esta prognose é mais
dificultosa, dada a imposição de uma dinâmica, quase
sempre, contraditória às características geoecológicas
do meio, aumentando o seu potencial de ocorrências catastróficas.Daí,
a imprescindibilidade de um manejo adequado do território. Longe
de dúvidas, é reafirmada a necessidade de apreender a paisagem
como um sistema de relações interativas entre o sistema geoecológico
e o sistema antrópico, resultando no que SÁNCHES & CARDOSO
da SILVA (1995) chamam de sistema ambiental ou sistema global.Nesse
contexto, tem ficado cada vez mais claro, que é preciso orientar
as intervenções antrópicas na natureza a partir desse
prisma, com vistas a adequar tais relações de uma forma racional,
evitando catástrofes ambientais. "As
paisagens apresentam-se às nossas vistas como verdadeiros mosaicos,
indicando que as potencialidades geoecológicas de cada porção
do espaço são diferenciadas e, por conseguinte, sugerem restrições
a determinados usos, implicando na necessidade de um ordenamento do território" (DIAS,
1998).De acordo com SÁNCHES
& CARDOSO da SILVA (op. cit.), o ordenamento do território
define-se por um processo de planejamento que “envolve uma estratégia
para melhorar e disciplinar as relações entre os aspectos
ecológicos e sócio-econômicos dos sistemas ambientais”. Portanto,
um conveniente ordenamento do território para a ocupação,
só pode ser feito mediante o reconhecimento das suas potencialidades
geoecológicas.O zoneamento
geoecológico ou ambiental do território é tomado como
uma arma estratégica no gerenciamento da ocupação
do espaço de uma forma “sistemática e prospectiva, evitando
os conflitos ecológico-sociais derivados de apropriações
inadequadas” (SÁNCHES & CARDOSO da SILVA, op. cit.),
isto é, o zoneamento é um documento prático e tático
frente à sustentabilidade do desenvolvimento. De
acordo com SÁNCHES & CARDOSO da SILVA (op. cit.), “o
ato de zonear um território corresponde a um conceito geográfico
de regionalização que significa desagregar o espaço
em zonas ou áreas que delimitam algum tipo de especificidade ou
alguns aspectos comuns, ou áreas com certa homogeneidade interna”.Os
autores precisam, ainda, que o processo de zoneamento necessita de um marco
de referência espacial concreta, ou seja, “uma unidade territorial
perceptível, que oriente a delimitação de uma área
para efeito de análise”. O
resultado do processo de zoneamento geoecológico ou ambiental leva
a “um produto cartográfico que expressa o nível de conhecimento
tecnológico disponível para compreender e integrar as variáveis
ecológicas e sócio-econômicas e projetar o ambiente
segundo suas reais potencialidades” (SÁNCHES & CARDOSO da
SILVA, op. cit.).Desse
modo, o zoneamento geoecológico ou ambiental, por si só constitui
um excelente diagnóstico ambiental e um documento geográfico
ímpar, e pode ser aplicado em diferentes níveis de escala
e percepção.Seus conceitos
e critérios aplicam-se tanto no nível de município,
quanto estado, região ou país. A
referência espacial para a determinação das unidades
geoecológicas da região de Bonito, é a paisagem,
que encerra o conceito de entidade espacial concreta, de acordo com a concepção
de BERTRAND (1971).A paisagem
é uma categoria espacial que admite uma abordagem sistêmica,
portanto, integrada e dinâmica de seus elementos constituintes, podendo
ser estudada transdisciplinarmente.
4
- A paisagem como ponto de partida
O
termo paisagem, pela carga de subjetividade que tem traduzido ao longo
do tempo, tem, igualmente, incitado muitas discussões dentro da
Geografia.Porém sempre
esteve presente no temário geográfico, ocupando lugar de
destaque, juntamente com os termos região, meio e espaço.Não
obstante, a noção de paisagem tem sido para os geógrafos,
o ponto de partida para pesquisas que buscam uma compreensão global
da natureza.É a paisagem
que, segundo PASSOS (1996), “responde à orientação
da Geografia para o concreto, o visível, a observação
do terreno, enfim, para a percepção direta da realidade geográfica”. De
acordo com esta premissa, "a paisagem não deve ser vista apenas
como determinada porção do espaço composta de elementos
externos, visíveis e estáticos.A
paisagem do geógrafo, apresenta-se como um mosaico, constituído
de elementos concretos e abstratos, visíveis e invisíveis,
que materializam as relações estabelecidas entre o homem
e o meio, e que é a expressão da organização
de todos os elementos no espaço geográfico.Portanto,
a compreensão da paisagem transcende o aspecto visual e apresenta-se
diferenciada numa escala têmporo-espacial" (DIAS, op. cit.).Neste
sentido, RIBEIRO (1989), expõe que: "apesar de a paisagem apresentar-se
visível e concretamente percebida, a sua compreensão racional
não deve restringir-se à mera descrição formal
e subjetiva de seus componentes e, muito menos, às simples relações
de causa e efeito entre eles.Seu
estudo pode ser o ponto de partida para o entendimento racional de um processo
mais amplo e abrangente, envolvendo a sociedade e a natureza". Pode-se
conceber que a paisagem situa-se na “interfácie” da natureza e da
sociedade, existindo exclusivamente, mediante o estabelecimento de uma
interrelação/conexão entre as duas esferas, ou seja,
na medida em que a natureza é percebida e elaborada pelo homem,
historicamente, constituindo o reflexo desta relação. Compreendendo-se
que as intervenções do homem na natureza implicam numa ruptura,
numa descontinuidade do sistema evolutivo natural, as paisagens apresentam-se
como sendo comandadas por duas dinâmicas:a
dinâmica natural e a dinâmica comandada pelo homem ou sócio-econômica,
impulsionada cotidianamente pela busca de uma realização
material humana, construindo e reconstruindo dialeticamente as paisagens. De
acordo com DIAS (op.cit.), a compreensão dessa relação
dialética da paisagem, "implica na investigação
dos elementos conjuntamente, isto é, deve-se passar a contemplá-la
como uma dimensão global que só pode ser compreendida a partir
de uma visão de mesma natureza, ou seja, global, identificando os
processos decorrentes da interconexão dos elementos e que dão
o caráter dinâmico à paisagem". É
esta a concepção que BERTRAND (op. cit.), com o lançamento
do texto "Paysage et Géographie Physique Globale: esquisse métodologique",
propõe para os estudos da paisagem e que tomou-se como base para
a investigação nessa pesquisa.Concebendo
a paisagem a partir de uma visão sistêmica, o autor apresenta
sua definição: "a paisagem não é a simples
adição de elementos geográficos disparatados no espaço.É
numa determinada porção do espaço, o resultado da
combinação dinâmica, portanto instável, de elementos
físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente
uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável,
em perpétua evolução” Ainda
que BERTRAND (op. cit.) tenha apresentado um conceito de paisagem
que dá a ela um caráter concreto, o termo ainda é
concebido "com bastante subjetividade pela maioria dos estudiosos, visto
incluir no seu conceito aspectos não perceptíveis ou mensuráveis
e nem mesmo apreendido identicamente por todos" (DIAS, op. cit.).Neste
trabalho, procurou-se despojar-se ao máximo da subjetividade, buscando
identificar a concretude da paisagem, com base na inter-relação
de seus elementos reais. Neste
caso, as unidades de paisagem foram definidas, levando-se em consideração
não apenas um ou outro elemento, mas a partir do resultado global
da combinação dos elementos paisagísticos, o que reflete,
segundo as idéias de BERTRAND (op.cit.), a dinâmica
do conjunto, estando expressos na sua fisionomia.Para
tanto, considerou-se o tripé sistêmico proposto pelo autor:potencial
ecológico (geologia, geomorfologia, clima), exploração
biológica (vegetação, solo) e a ação
antrópica, relacionando cada um deles, buscando ressaltar o
papel desempenhado na configuração da paisagem. Nestes
termos, as cada porção de paisagem, "reflete porções
do espaço que apresentam características intrínsecas
semelhantes, expressando as condições atuais do sistema evolutivo,
ou seja, cada unidade demonstra seu estádio atual e sua posição
em relação ao sistema evolutivo global.Portanto
levou-se em conta, suas descontinuidades espaciais objetivas, a partir
da manifestação dos elementos mais evidentes, como a geomorfologia,
a geologia, o uso antrópico etc."(DIAS, op. cit.). Além
da definição das unidades de paisagem, determinou-se a dinâmica
de cada uma delas, com base na classificação lançada
pelo próprio BERTRAND (op.cit.), a qual classifica cada porção
do espaço de acordo com o balanço entre a estrutura abiótica,
a estrutura biótica e a ação antrópica.
5
- Materiais e técnicas utilizadas
Os
recursos básicos utilizados para a delimitação e cartografação
das unidades da paisagem, foram as imagens LANDSAT TM, canais 3, 4 e 7,
tratadas em laboratório via o software GRASS4.1®.Tal
software
possibilita combinar os canais em diversas opções de composições
coloridas, permitindo um reconhecimento bastante preciso das unidades.Pari
passu
ao tratamento digital das imagens, os trabalhos de reconhecimento
de campo excluíram aquelas dúvidas no processo de delimitação. A
escolha dos canais para esta pesquisa, teve, via de regra, como ponto de
partida, aqueles que melhor ressaltassem os elementos na paisagem e que
seriam alvo de investigação:a
vegetação, a geomorfologia, os corpos d’água, a individualização
litológica.Deste modo, escolheu-se
os canais 3, 4 e 7, justamente aqueles sugeridos por ROSA (1995), com um
coeficiente de correlação[3]
entre si bastante baixo, conseqüentemente com uma maior quantidade
de informações. A
imagem adquirida situa-se na órbita 226, ponto 75, quadrante N (226.75N),
datada de 28/05/95.Desta, fez-se
um recorte espacial, englobando a porção destinada à
análise. Além
das imagens de satélite, outras bases cartográficas foram
necessárias.Para a caracterização
do substrato físico, recortou-se a área destinada à
análise nos mapas de geologia, geomorfologia e pedologia do Projeto
RADAMBRASIL, e do Macrozoneamento Geoambiental de Mato Grosso do Sul, na
escala 1:1.000.000. A partir daí, estes recortes foram “escaneados”,
digitalizando cada um deles via o software CorelDraw™8
e depois, ampliados para a mesma escala da imagem de satélite trabalhada
(aproximadamente 1:250.000).Já
o mapa hidrológico teve como fonte, as Cartas Topográfica
do MME - DSG, na escala 1:100.000.Neste
mapa, fez o processo inverso, necessitando reduzi-lo para a escala da imagem
de satélite. A
intenção, neste caso, foi organizar cada mapa com os diferentes
temas, sob a forma de layers (camadas), o que possibilitou, ainda
no microcomputador, comparar cada um deles em conjunto ou separadamente.Este
processo permitiu uma análise integrada dos elementos, confrontando
a espacialização de cada um deles com a estruturação
superficial da paisagem (vegetação nativa e atividades antrópicas),
constituindo-se como um rico material para delimitação de
cada unidade básica da paisagem.
6
- As paisagens de Bonito[4]
Pretende-se
neste item fazer uma descrição e análise das paisagens
de Bonito, considerando-se todas as observações dos trabalhos
de campo, bem como o material cartográfico utilizado, estabelecendo-se
um ligação entre os elementos constituintes da paisagem,
responsáveis pela configuração fisionômica e
pela dinâmica atual de cada unidade. A
região de Bonito está localizada numa área de contato
de diferentes tipos e grupos litológicos, com intensos processos
tectônicos, implicando na produção de paisagens particulares.Está
assentada basicamente sobre rochas carbonáticas – calcários
e dolomitos – das Formações Cerradinho e Bocaina, do Grupo
Corumbá no topo, e rochas do Grupo Cuiabá, na base, arcabouço
geológico da Serra da Bodoquena. A
predominância de rochas carbonatadas resulta na produção
de paisagens com feições cársticas.Deste
modo, as paisagens de Bonito vão apresentar características
que estarão diretamente relacionadas ao fenômeno cárstico. O
carste encontrado na Serra da Bodoquena, demonstra a sua relativa juventude,
quando comparado com outras regiões do mundo, descritas por outros
autores.Este fato é visivelmente
comprovado quando analisados os padrões e densidade da rede de drenagem
que cortam o bloco calco-dolomítico da Serra da Bodoquena, ainda
predominantemente superficial e, também, pela ausência de
drenagem mais desenvolvidas e típicas como o padrão multibasinal.No
carste de fase madura, a drenagem superficial tende a desaparecer por completo,
passando a ser totalmente subterrânea.Assim,
estando o carste de Bonito ainda numa fase de desenvolvimento inicial,
não apresentará formas de grande expressão, ocorrendo
até mesmo a ausência de algumas feições inerentes
ao carste bem desenvolvido, como dolinas de grande extensão, uvalas
etc. ALMEIDA
(1965), confere o retardamento no desenvolvimento da morfologia cárstica
na região da Serra da Bodoquena provavelmente à natureza
mais dolomítica, nos calcários e dolomitos da Formação
Cerradinho.A presença de
magnésio nos calcários dolomíticos estabelecem uma
maior resistência à dissolução pela água.Comprovou-se,
nesta pesquisa, a natureza muito mais dolomítica das rochas da região
quando das viagens de campo, durante as quais verificou-se que os morros
residuais (mogotes) são constituídos de calcário dolomítico,
o principal motivo de sua manutenção.Constatou-se
também que, além da predominância de calcários
dolomíticos, outros fatores reforçam a menor solubilidade
dos calcários dolomíticos da região:a
ocorrência de fácies mais impuras constituídas por
metagrauvacas e veios de quartzo preenchendo zonas de fraturamento, caracterizadas
por estruturas de cataclases e brechação.Os
afloramentos deste tipo de calcário na região apresentam-se
desprovidos ou com muito poucas microformas como as lapiás, feições
habituais em calcários mais solúveis, como o calcítico. CORRÊA
et
al (1979), destaca a porção oriental da Serra da Bodoquena,
como a área onde as feições cársticas apresentam-se
mais desenvolvidas, justamente na região onde assenta-se a cidade
de Bonito, alvo da pesquisa.É
aí onde encontram-se a grande maioria de cavernas ou grutas, dolinas,
abismos, paredões abruptos, mogotes, formas pinaculadas etc.Este
fato está diretamente relacionado a uma maior ocorrência de
calcário calcítico, os quais apresentam uma maior fragilidade
perante as ações de dissolução da água.Quando
tectonizados, o favorecimento da infiltração em suas fraturas
estabelece intensa dissolução originando as feições
de dolinas e cavernas. Em
Bonito, desenvolveu-se uma formação geológica pouco
típica, representada pela Formação Xaraiés.Esta,
sendo constituída de depósitos calcários provenientes
das rochas carbonatadas dos Grupos Corumbá e Cuiabá, aparece
em três pontos isolados na região de Bonito, acompanhando
as margens muito úmidas e planas dos rios Formoso e Perdido.Constitui-se
de um calcário pulverulento de cor branco-amarelada ou cinza composto
por imensa quantidade de materiais fósseis (conchas, carapaças
etc.).A exploração
econômica deste material tem desfigurado as paisagens originais,
restando aspectos visuais agressivos. O
fenômeno cárstico de Bonito produziu extensas plataformas
de vertentes retilíneas, desprovidas de vales profundos, entremeadas
pelos mogotes que erguem-se abruptamente, sem uma transição
do plano para o inclinado.São
paisagens decorrentes da predominância da infiltração
em detrimento do escoamento superficial, o que faz com que o processo de
dissolução suplante a erosão.Excetua-se
o grande vale em forma de canyon do Rio Perdido, que drena o maciço
da Bodoquena.BIGARELLA (1994),
acusa o surgimento deste tipo de vale a rios com nascentes em zonas extracársticas,
decorrentes de uma caudalosidade suficiente para cavar o canyon.Outro
caso que pode, segundo o autor, originar canyons é quando
estes tenham sido antigos rios subterrâneos e com o desmoronamento
da abóbada das galerias, trouxe a descoberto a corrente d’água.No
caso do Rio Perdido, estes fatores parecem ser estranhos, tendo todas suas
nascentes dentro da área de litologias calcárias e nenhum
indício de desmoronamentos.Levanta-se
a hipótese de o desenvolvimento do seu canyon estar ligado
exclusivamente à adaptação a direções
tectônicas (linhas de falhas). BIGARELLA
(op. cit.), descreve os mogotes de regiões cársticas
tropicais com sendo morros residuais de formato cônico.Na
região de Bonito, os mogotes apresentam-se com um formato convexo
bastante suave , quase sempre revelando a direção do mergulho
das camadas, observada pela dissimetria das vertentes.São
raros os mogotes que tenham um formato voltado para o cônico. Na
área pesquisada, sobre as litologias do Grupo Cuiabá, verifica-se
que o relevo diferencia-se acentuadamente daqueles vales aplainados das
Formações do Grupo Corumbá.A
dissecação do relevo produziu formas onduladas, com vertentes
côncavo-convexas e vales em “V”, especialmente sobre as rochas filíticas,
entremeados por morros residuais calcários (mogotes). As
rochas carbonáticas intemperizadas dão origem a solos com
alto teor de fertilidade.Localmente
tem-se, o desenvolvimento de vários tipos de solos, ligado diretamente
à composição litológica, tanto fisica quanto
quimicamente.Dentre os tipos ocorrentes,
destaca-se aTerra Roxa Estruturada
Similar eutrófica latossólica, o Brunizém Avermelhado,
o Glei Húmico eutrófico vértico e o Latossolo Vermelho-Escuro
eutrófico como os que melhor se prestam para a prática agrícola,
devido ao sua maior profundidade e facilidade à mecanização.O
solo Rendzina, apesar de ser descrito pelo Projeto RADAMBRASIL com seqüência
de horizontes do tipo A e C, verificou-se a ocorrência de profundidades
razoáveis para a mecanização.O
Regossolo álico, desenvolvido sobre as litologias do Grupo Cuiabá,
apresenta-se pouco profundo, podendo verificar afloramentos constante do
material original, especialmente filitos, misturados em cascalheiras quartzosas. Deve-se
ressaltar que, via de regra, a profundidade dos solos sobre os mogotes
é bem pequena, apresentando-se bastante pedregosos, com destaque
para a presença de calhaus e matacões, fato observado durante
os trabalhos de campo.Todavia,
embora BIGARELLA (op. cit.) descreva a ocorrência nas paisagens
cársticas de mogotes totalmente desprovidos de solo e vegetação,
no carste de Bonito não se tem registro de mogotes com essas características.Ao
contrário, na região de Bonito, é sobre os mogotes
que desenvolve uma vegetação exuberante, de porte florestal,
mesmo estes sendo de solos rasos e pedregosos. A
principal propriedade do modelado cárstico, como descrito, é
a predominância da drenagem subterrânea, dando origem aos chamados
sumidouros e ressurgências.As
águas que correm em superfície podem, abruptamente, passar
a drenar subterraneamente, adentrando em canais abertos no interior do
bloco calcário (sumidouros), dando origem ao “vale cego” e, a jusante,
ressurgir, passando a correr em superfície novamente (ressurgências).
Em muitos casos, este fato ocorre especialmente em épocas de deficiência
hídrica, sendo que nas épocas chuvosas, voltam a ocupar o
antigo vale seco, em virtude da saturação dos canais subterrâneos. As
taxas relativamente altas de precipitação na região
– por volta de 1.200 a 1.500 mm anuais – vão contribuir, muito particularmente,
para a predominância da drenagem superficial das áreas cársticas.O
lençol subterrâneo é alimentado basicamente o ano todo,
sofrendo de deficiência hídrica, apenas num curto período,
o que implica no desaparecimento superficial de alguns trechos dos cursos
de água menos caudalosos.Além
disso, em muitos locais, o lençol freático da região
apresenta-se pouco profundo, aflorando facilmente em épocas chuvosas.São
encontradas extensas áreas de banhados, principalmente ao longo
do Rio Formoso, facilmente visíveis em fotografias aéreas
e imagens de satélite. Não
obstante, um exemplo bastante típico de drenagem subterrânea
existente na região é o caso do Rio Perdido, que tem este
nome devido adentrar-se em sumidouros passando a correr subterraneamente,
e ressurgindo novamente a jusante.Muitos
outros pequenos exemplos podem ser arrolados na região, apresentando
o fenômeno.Mas o fato que
mais impressiona são as nascentes de alguns rios, como o Rio Sucuri,
que são verdadeiras ressurgências, nas quais as águas
brotam caudalosamente, com aspecto extremamente cristalino.Estas
ocorrem, na região, geralmente nas porções mais rebaixadas
do terreno, indicando serem águas que percolaram grandes distâncias
no interior do bloco calcário.A
cristalinidade das águas é explicada pelo fato de ser o calcário
uma rocha solúvel, não transportando materiais em suspensão,
os quais dão coloração à água. KOHLER
(1989), destaca a importância dos estudos do sistema hídrico
das regiões cársticas, visto suas peculiaridades.Face
ao cataclasamento e brechamento das rochas calcárias e à
circulação das águas em subsuperfície, estas
funcionam como reservatórios hídricos subterrâneos,
criando áreas de recarga e áreas de descarga.De
acordo com o autor, as áreas de recarga devem ser preservadas, evitando
a contaminação dos aqüíferos e, as áreas
de descarga, que coincidem com as planícies e nascentes, devem permanecer
intocadas, com o intuito de evitar a erosão acelerada. As
altas taxas de pluviosidade da região, aliadas ao alto teor de fertilidade
dos solos calcários, favorecem o aparecimento de um manto florestal
bastante expressivo, recobrindo a Serra Bodoquena.Esta
característica realça a diferenciação das paisagens
que imperam na Bodoquena cárstica, comparada ao contexto regional.Desenvolve-se
a Floresta Estacional Decidual (Floresta Submontana) e Cerrados (Áreas
de Tensão Ecológica).Os
trabalhos de campo permitiram averiguar e confirmar que a distribuição
das formações vegetais estão diretamente associadas
às diferenciações lito-pedológicas.Desconsiderando
as áreas totalmente devastadas pelo agente antrópico, a ocorrência
de formações florestais (Floresta Estacional Decidual) estão,
regra geral, sobre as litologias calcárias do Grupo Corumbá.Por
outro lado, naquelas áreas onde afloram as litologias do Grupo Cuiabá
e dos arenitos da Formação Aquidauana, encontram-se os cerrados
(Áreas de Tensão Ecológica). A
ocupação antrópica desfigurou grande parte das paisagens
originais da região, criando um complexo mosaico paisagístico.Hoje,
as paisagens da região de Bonito são um misto de áreas
completamente desprovidas de vegetação natural convivendo
lado a lado com áreas intocadas.As
primeiras referem-se aos vales aplainados e as segundas, aos mogotes. As
porções mais elevadas da Serra da Bodoquena desfrutam de
um grande maciço florestal, conservado, principalmente, pelo fato
de estar sobre um relevo acidentado, o que acaba por dificultar o uso para
outros fins.Nem por isso, acredita-se
que esta não esteja fora de riscos, caso não haja uma presença
sistemática dos órgãos defesa ambiental.Considera-se
que, pelas suas características tanto florísticas, quanto
pelas características de sua estrutura lito-pedológica, esta
porção deve ser destinada à preservação
permanente. As
porções de cerrado (Áreas de Tensão Ecológica),
consideradas de transição entre formações vegetais,
por suas características florísticas, acabam sendo alvo de
uma ação antrópica mais intensa, seja pela concepção
errônea de aparente “pobreza” das espécies florestais (predomínio
de arbustos e espécies herbáceas), portanto trocando-as por
pastagens artificiais ou utilizando-o como pastagem natural, sendo, também,
o primeiro passo para a exclusão deste. A
alta fertilidade dos solos atraiu, nos últimos anos, agricultores
de forma rápida e intensiva para a região, caracterizando-a
como uma das fronteiras agrícolas mais recentes do Estado de Mato
Grosso do Sul (CATTANIO et al, 1993).Este
tipo de exploração demonstra sérios riscos para o
ambiente, uma vez que a circulação subterrânea, facilita
a contaminação dos lençóis aqüíferos,
quando da utilização de agrotóxicos.CATTANIO
et
al (op. cit.) sugerem a exclusão de tal prática
nas regiões calcárias.Além
disso, a implantação dos agrossistemas implica na retirada
de grandes massas vegetais, condição imprescindível
para a proteção contra os processos erosivos e perda de solos.O
processo inverso pode desencadear uma série de fenômenos degradativos
ao ambiente. Os
grandes vales aplainados são os locais destinados ao cultivo de
cereais, em especial a soja, ou como pastagens artificiais, visto a facilidade
de mecanização. O
calcário é explorado também como matéria-prima
para a construção civil, seja como brita ou para a fabricação
de cimento e cal;é utilizado
como corretivo de solos ácidos, após passar por um processo
de moagem e, além disso, da extração do mármore
– o calcário metamorfizado.A
exploração econômica, neste sentido, é potencialmente
atrativa. A
beleza cênica revelada pelas formas criadas pelo processo de carstificação
das rochas calcárias, tem despertado o turismo como uma nova fonte
de renda para a região, especialmente para o município de
Bonito, o que implica numa outra ameaça à fragilidade do
equilíbrio geoecológico do ambiente. A
região de Bonito é famosa pelas suas grutas, pelos rios e
nascentes cristalinos e pelas inúmeras cachoeiras. Dezenas
de grutas ou cavernas ocorrem na região de Bonito.Porém,
apenas 2 delas merecem destaque:a
Gruta do Lago Azul e a Gruta Nossa Senhora Aparecida. A
Gruta do Lagoa Azul constitui o ponto turístico mais visitado da
região.A origem de seu
nome está na virtual coloração de suas águas
muito cristalinas, diante da penetração da luz solar.Esta
gruta não dispõe de grande quantidade e nem de um grande
desenvolvimento de espeleotemas, o que indica a sua pouca idade e também
a composição mais dolomítica.Esta
gruta diferencia-se das outras ocorrentes na região pela profundidade
(ainda muito especulada) e por apresentar água no seu interior. A
Gruta Nossa Senhora Aparecida é conhecida pela sua imensa quantidade
de espeleotemas, muito superior à da Gruta do Lago Azul, porém
sem água no seu interior.Hoje
esta gruta encontra-se interditada para a visitação turística,
devido à depredação e a riscos de desabamento. Os
rios Formoso, Mimoso e Sucuri são os principais em termos de beleza,
representados pelas suas majestosas cachoeiras de águas cristalinas
e peixes, com destaque para as cachoeiras do rio Mimoso.Algumas
nascente (em ressurgências) representam pontos de beleza incomparável,
como o chamado Aquário (Baia Bonita), a Lagoa Misteriosa, o Rio
Sucuri etc. Neste
contexto, entende-se que a região cárstica de Bonito, apresenta-se
como uma área em que as fragilidades aos processos de depauperação
ambiental, são evidentes, frente a uma ocupação e
exploração desordenada.Considera-se,
por esta razão, ponto primordial a realização de inventários
completos, visando conhecer o teor da fragilidade e das potencialidades
geoecológicas dos geossistemas calcários/cársticos
regionais e a posteriorrealização
de planejamentos de ocupação e exploração sustentáveis,
capazes de estabelecer uma harmonia entre as necessidades da sociedade
e as da natureza.Todavia, a ocupação
da região da Serra da Bodoquena, tem acontecido há tempos
e de forma maciça, o que sugere a ausência de planejamentos
condizentes, já que a legislação ambiental no Brasil,
tem datação recente.Aliado
a isso, a dificuldade da criação de uma consciência
ecológica autêntica nos seus ocupantes, expressa os riscos
a que a região cárstica de Bonito está submetida.
7
- As unidades de paisagem de Bonito[5]
A
organização da paisagem, como tratado anteriormente, constitui
a síntese da integração dos elementos participantes.Entretanto,
há que se destacar a importância maior de alguns elementos
em detrimento de outros, no seio da evolução geral da paisagem. Estes
elementos preponderantes, constituem a base da evolução e
são, evidentemente, os mais aparentes no processo evolutivo.Evidencia-se,
dessa forma, que os elementos da paisagem se manifestam hierarquicamente,
e deve-se estar atento a este fato, para se compreender a estruturação
paisagística. Ressalte-se
que numa escala têmporo-espacial os elementos mais evidentes na evolução
da paisagem nem sempre são os mesmos e que, portanto, a passagem
da preponderância de um elemento paisagístico para outro,
anuncia uma descontinuidade no sentido evolutivo da paisagem.Para
a escala de tempo humana, estas descontinuidades são quase sempre
determinadas pelo próprio homem, em seu processo de intervenção
na natureza.Além de uma
descontinuidade temporal da manifestação dos elementos, tem-se
também, uma descontinuidade espacial, o que explica a diversidade
fisionômica das paisagens. Percebe-se,
portanto, que não é possível definir todas as unidades
da paisagem a partir de um elemento apenas, devendo atentar-se para a hierarquiacom
a qual se manifestam os elementos da estruturação paisagística.Em
cada unidade, utilizou-se na delimitação, o elemento mais
ressaltante fisionomicamente, porém, tendo como critério
único a procura das “descontinuidades objetivas”, evidenciadas pela
dinâmica atual do conjunto. A
seguir estão apresentadas as 5 unidades de paisagem, identificadas
na área de estudo, bem como uma descrição de cada
uma delas.
A Unidade Cárstica da Bodoquena
A
delimitação desta unidade foi feita, especialmente, devido
a uma uniformidade nas tonalidades da imagem de satélite, o que
a define como uma porção bastante distinta daquelas que a
rodeia.A tonalidade forte de vermelho
reflete uma cobertura vegetal maciça, a qual foi o principal elemento
definidor desta unidade. Denominou-se
tal porção de Unidade Cárstica da Bodoquena,
devido estar assentada sobre o maciço calcário da Serra da
Bodoquena, de topografia movimentada.Provavelmente,
a dificuldade de exploração da área tem sido o principal
fato contribuidor para a manutenção da cobertura vegetal
original (Floresta Submontana - Floresta Estacional Decidual). Em
quaisquer composições coloridas da imagem, a Unidade Cárstica
da Bodoquena aparece como uma porção muito bem definida,
deixando claro que sua existência é decorrente de uma combinação
de elementos que a faz funcionar dentro de uma mesma dinâmica Outras
pequenas porções, separadas do grande maciço da Bodoquena,
foram consideradas como participantes dessa mesma unidade por apresentar
as mesmas características fisionômicas. A
Unidade
Cárstica da Bodoquena desenvolve-se sobre os calcários
da Formação Bocaina, estes mais resistentes ao processo de
dissolução, sendo por isto responsável pela topografia
movimentada e pelas maiores elevações da Serra da Bodoquena
na região.De acordo com
observações in loco, verificou-se que, mesmo com a
vegetação exuberante, os solos, apesar de muito férteis
(Rendzina), são pouco profundos, constituídos de grande quantidade
de rocha inalterada em superfície e afloramentos.Associa-se
a este fato a manutenção do maciço florestal original
ou pouco transformado, funcionando como um obstáculo a outros tipos
de uso. A
Unidade
Cárstica da Bodoquena por estar localizada nas porções
mais elevadas da Serra da Bodoquena na região, constitui uma área
de recarga hídrica, importantíssima para a dinâmica
hidrológica regional.A imensa
quantidade de falhamentos e fraturas verificadas na unidade, tanto no Mapa
Geológico do Projeto RADAMBRASIL[6],
quanto facilmente observadas em imagens de radar e fotos aéreas
da área, indicam potencial para circulação subterrânea,
com a ocorrência de sumidouros.Visitas
in
loco comprovaram a existência de sumidouros.Este
fato explica a pequena quantidade de cursos d’água que cortam a
unidade, destacando-se apenas o rio Perdido e algumas nascentes de afluentes
da bacia do rio Formoso. A
Unidade
Cárstica da Bodoquena é, dentre as unidades definidas,
aquela que apresenta uma maior homogeneidade no sistema evolutivo atual.A
dinâmica global desta unidade expressa um desenvolvimento harmônico
entre os subsistemas abiótico e biótico, dado a pequena ou
nenhuma intervenção de ordem antrópica e a manutenção
da cobertura vegetal original em toda sua extensão.No
conjunto, a Unidade Cárstica da Bodoquena participa atualmente
de uma dinâmica biostásica climácica,
onde a atuação da geomorfogênese é insignificante. A
Unidade do Formoso/Perdido
O
elemento ressaltante na delimitação da Unidade do Formoso/Perdido,
foi o excesso de água, que se manifesta em banhados ou brejões,
acompanhando largo trecho ao longo do curso dos rios homônimos e
outras pequenas áreas isoladas. Tal
unidade apresenta, nas composições coloridas da imagem de
satélite, contornos bastante nítidos, em tons esverdeados.Quando
tomado o canal 4 (tons de cinza), que realça os corpos hídricos,
percebe-se uma nitidez ainda maior desta unidade. As
áreas dessa unidade que acompanham o curso do rio Formoso e seus
afluentes, ao contrário da Unidade Cárstica da Bodoquena,
constitui áreas de descarga hídrica, uma vez que são
as áreas mais rebaixadas da região e de topografia suave.Nesta
unidade encontra-se grande parte das ressurgências, com destaque
para a já citada ressurgência do rio Sucuri, de beleza impressionante. Outro
fator de destaque, é que grande parte desta unidade desenvolve-se
sobre áreas de depósitos da Formação Xaraiés,
tanto nas proximidades do rio Formoso quanto no rio Perdido, sobre solos
do tipo Glei Húmico eutrófico vértico, além
de outros em menor escala. A
vegetação natural dessa unidade é do tipo herbáceo-arbustiva,
própria de áreas muito úmidas.Este
tipo de vegetação favorece a ocupação como
pastagens naturais, o que tem ocorrido atualmente.Além
disso, beneficiados pela alta umidade e fertilidade dos solos, alguns núcleos
agrícolas, em especial de soja, tem sido implantados na área Merece
ser ressaltado, também, a exploração do calcário
da Formação Xaraiés, este com textura pulverulenta,
em alguns pontos da Unidade do Formoso/Perdido.A
sua exploração implica na abertura de enormes clareiras na
vegetação e uma desestruturação no potencial
ecológico, além de restar um aspecto visual desagradável,
quando do abandono da atividade.Como
os depósitos do calcário da Formação Xaraiés
estão associados aos cursos dos rios Formoso e Perdido, os “ferimentos”
deixados pela exploração estão sempre próximos
as suas margens, o que no período chuvoso, quando o nível
do lençol freático eleva-se, acaba por inundar as áreas
de exploração. Muitas
das planícies formadas pelos depósitos do calcário
da Formação Xaraiés assemelham-se bastante aos poljés
descritos por BIGARELLA et al (op.cit.), embora não
constituam depressões fechadas advindas da evolução
de dolinas e uvalas.KOHLER (1988)
e LIMA (1992) consideram a existência de pequenos poljés
no carste de Bonito.Estes, na região,
aparecem como áreas muito planas, interrompidas por alguns mogotes
ou humes. Pela
Unidade
do Formoso/Perdido caracterizar-se por elevada umidade e, portanto,
assentar-se sobre nascentes e banhados ou brejões, deve ser levado
em conta a importância desta para a dinâmica hídrica
regional, necessitando de uma conservação sistemática. Embora
esteja sob pressão do agente antrópico, explorando-a para
a agropecuária e o extrativismo, a Unidade do Formoso/Perdido,
pode ser enquadrada dentro de uma dinâmica biostásica
paraclimácica, esta marcada por uma evolução
de origem antrópica.A variável
que mais contribui para a relativa estabilidade do potencial ecológico
da Unidade do Formoso/Perdido, é a suavidade da topografia. A
Unidade dos Morros Disjuntos
Separado
do Maciço da Bodoquena, aparece um verdadeiro “campo de morros”
quase sempre isolados uns dos outros, ao qual denominou-se Unidade dos
Morros Disjuntos.O elemento
fisionômico utilizado para a definição desta unidade
foi a irregularidade da topografia, representada pelos morros, bem como
a vegetação – em tons avermelhados – que se manifesta em
pequenas porções isoladas umas das outras, justamente sobre
os referidos morros. A
Unidade
dos Morros Disjuntos constitui uma porção com relevos
bastante dissecados, restando um conjunto de morros isolados.Corresponde
a uma área de transição entre a Formação
Cerradinho, Bocaina e Grupo Cuiabá.Esta
transição de formações e grupos litológicos,
implica numa diferenciação no formato, composição
e disposição dos morros residuais, bem como nos tipos de
vales. Durante
os trabalhos de campo, constatou-se que sobre os calcários das Formações
Cerradinho e Bocaina, os vales caracterizam-se por uma planura, em meio
a morros isolados e arredondados (mogotes).Já
sobre as litologias do Grupo Cuiabá, constituídas localmente,
predominantemente por filitos, produzem vales em “V”, com superfícies
côncavo-convexas.Nestes, os
morros residuais, compostos por calcários, apresentam-se alongados
e alinhados no sentido norte-sul.Esta
diferença na configuração da paisagem está
ligada, estritamente, à composição litológica
e aos tipos de processos na desnudação da paisagem. Como
a Formação Bocaina sobrepõe-se na coluna estratigráfica
à Formação Cerradinho, esta última aparece
na Unidade dos Morros Disjuntos nas porções mais rebaixadas,
de dissecação mais acentuada, em especial numa estreita faixa
norte-sul na porção ocidental. A
predominância absoluta de litologias carbonáticas na porção
ocidental da Unidade dos Morros Disjuntos, aliada a uma maior dissecação
do relevo, que também indica uma fase mais evoluída do carste,
vai refletir em cursos d’água pouco volumosos e pouco numerosos.Destaca-se
o córrego Anhumas e o córrego Taquaral, afluentes do rio
Formosinho.É nessa porção
da unidade que ocorreboa parte das
feições cársticas da região. Já
na porção oriental da referida unidade, sobre as litologias
do Grupo Cuiabá, os cursos d’água indicam tipos de rochas
menos permeáveis, que refletirão numa rede hidrográfica
muito mais numerosa, destacando o rio Mimoso e seus afluentes. A
Unidade
dos Morros Disjuntos, apresenta, ligado também a diferenciação
litológica, diversos tipos de solo, destacando a Terra Roxa Estruturada
Similar eutrófica desenvolvida especialmente sobre as Formações
Cerradinho e Bocaina.Na área
com litologias filíticas do Grupo Cuiabá, desenvolve-se o
Regossolo álico, de pequena profundidade e com menor fertilidade.Ocorre
também em menor escala, porções de Rendzina, Brunizém
Avermelhado e Latossolo Vermelho-Escuro álico. Esta
unidade tem sido utilizada, predominantemente, para a pecuária,
seja com pastagens artificiais implantadas nas áreas desmatadas
em meio aos mogotes, ou com o próprio cerrado, como pastagem natural.Encontra-se
também algumas amostras de atividade agrícola, especialmente
sobre os solos mais férteis, nos vales aplainados da porção
ocidental. A
Unidade
dos Morros Disjuntos abriga ainda, o núcleo urbano de Bonito,
local onde concentram-se as maiores interferências no meio físico,
bem como a produção de resíduos degradantes ao meio.Neste
caso, este espaço e todo o seu entorno – onde exerce influências
– deve ser tratado de forma diferenciada.Atenta-se
para os canais hidrográficos que cortam o perímetro urbano,
estes exercendo o papel de receptores de materiais de toda ordem e, por
extensão, potencialmente degradadores. A
irregularidade da topografia da Unidade dos Morros Disjuntos, aliada
aos desmatamentos das áreas mais planas, bem como de alguns morros
residuais, juntamente com o uso atual com pastagens e agricultura, conduziu
a uma classificação da dinâmica como biostásica
climácica sobre os morros residuais recobertos por vegetação
original e com dinâmica do tipo biostásica degradada
regressiva nas áreas planas entre tais morros, visto constituírem
porções ainda em processo de degradação. A Unidade de Pastagens
A
Unidade
de Pastagens foi definida visto aparecer como áreas bastante
alteradas pela intervenção antrópica, sendo este o
elemento determinante na sua elaboração.A
exclusão da cobertura vegetal original de grande e médio
porte, aparece nitidamente nas composições coloridas imagem
de satélite com tons claros – amarelados, branco-azulados, rosados
–, além de serem acusados pelos formatos retangulares. Esta
unidade aparece distribuída, principalmente, na porção
oriental da quadrícula pesquisada, associada à presença
da sede do município, este funcionando, historicamente, com centro
difusor de alterações na paisagem.A
implantação da atividade pastoril na região, tem sido
a maior responsável pela desfiguração da vegetação
original, restando apenas alguns pontos isolados, acompanhando cursos d’água
ou nos mogotes.Juntamente com a
pecuária, a atividade agrícola completa o processo de desfiguração
das paisagens originais.É
sobre a Formação Cerradinho que estão localizada as
maiores extensões de pastagens extensivas.Muitas
dessas extensões foram, em tempos pretéritos, ocupadas com
agricultura. Na
maioria dos casos, na Unidade de Pastagens, houve uma retirada total
da vegetação para a implantação de pastagens
artificiais com o gênero Brachiária. Entretanto,
parte das pastagens são ainda de vegetação original
– o cerrado –, no qual foi retirada apenas a vegetação de
porte maior, restando uma vegetação de caráter herbáceo/arbustivo. É
possível identificar muitas porções de agricultura
dentro desta unidade, porém o tamanho reduzido destas e a predominância
da atividade pastoril, levou a integrá-la dentro da Unidade de
Pastagens.Além disso,
considera-se que a delimitação de porções muito
reduzidas acabaria por desviar da noção de unidade básica. A
delimitação desta unidade considerando-se, especificamente,
o uso do solo, justifica-se pelo fato desta apresentar-se com uma fisionomia
criada pela ação antrópica, o que conseqüentemente
irá resultar num tipo de dinâmica e funcionamento determinado,
evidentemente, pelas transformações impostas. A
Unidade
de Pastagens foi considerada como participante, atualmente, de uma
dinâmica biostásica degradada regressiva.Apesar
da degradação da vegetação original e mesmo
da utilização desta como pastagens naturais, não se
percebe uma atuação da geomorfogênese que se possa
considerar como expressiva.Contudo,
verifica-se que há uma constante intercalação entre
pastagens e agricultura em muitas porções da unidade, especialmente
comandadas pelas oscilações do mercado econômico.Neste
caso, temos, identicamente, uma inconstância na dinâmica destas
porções. A Unidade Agrícola
O
conjunto de áreas denominadas como Unidade Agrícola,
corresponde, especialmente, àquelas de solos essencialmente calcários;em
alguns casos, onde aparecem exemplos de pequenos poljés.Esta
unidade, embora não abrangendo extensas áreas contínuas,
foi delimitada devido exercer importância no processo de desfiguração
das paisagens originais e ser praticada em alguns locais e condições
que merecem cuidados muito especiais com o substrato físico. A
análise das imagens, juntamente com as comprovações
de campo, mostrou uma concentração de áreas agrícolas
nas imediações das nascentes do rio Formoso e de alguns de
seu afluentes.Percebe-se uma tendência
às porções agrícolas localizarem-se sobre os
calcários da Formação Cerradinho, uma vez que estes,
bem mais dissecados, apresentam topografia suave e solos mais profundos
(Terra Roxa Estruturada Similar eutrófica) o que favorece muito
tal atividade.Os trechos desenvolvidos
nas proximidades do rio Formoso desfrutam, além a suavidade da topografia,
de um outro fator importante para a atividade que é a elevada umidade
dos solos, representada pela Unidade do Formoso/Perdido e os solos
resultantes da Formação Xaraiés (Glei Húmico
eutrófico vértico). Além
das áreas delimitadas como pertencentes a Unidade Agrícola,
muitas outras porções de tamanho reduzido são encontradas,
distribuídas por toda a extensão da imagem, exceto em meio
à Unidade Cárstica da Bodoquena, porém, difíceis
de serem mapeadas.Via de regra,
a agricultura na região é praticada nos vales aplainados,
interrompidos pelos morros residuais.A
soja tem sido o principal produto cultivado na região em grande
escala, seguido pelo milho. Deve-se
ressaltar que a definição desta unidade deu-se em função
das informações contidas na imagem de satélite datada
de 28/05/1995, juntamente com visitas de campo.Considerando-se
a época do rastreamento como um período em que as culturas
(soja e milho) encontram-se já colhidas ou em fase de colheita,
algumas informações podem confundir-se com áreas de
pastagens e vice-versa. No
geral, a atividade agrícola, revela perigo em potencial para os
mananciais.A cobertura vegetal temporária
e de porte mínimo (agricultura) não funciona como proteção
à emissão de resíduos sólidos aos córregos
e rios.Aliado a este fato, a utilização
de insumos agrícolas em uma área em que a estrutura dos solos
e rochas são tão permeáveis, aumentam o gradiente
de periculosidade ao ambiente.Os
casos mais graves são aqueles em que a concentração
da atividade está nas imediações das nascentes.Ademais,
encontra-se área de agricultura sobre terrenos constituídos
por grande número de dolinas, estas aparecendo como verdadeiras
ilhas de matas em meio à plantações.Sabendo-se
que as dolinas estabelecem uma ligação entre a superfície
e os canais subterrâneos, funcionando como “suspiros” destes, salienta-se
os riscos de uma contaminação dos aqüíferos subterrâneos,
via entrada de materiais degradantes (agrotóxicos) por elas. Nas
pesquisas de campo percebeu-se que, a presença de curvas de nível
em muitas propriedades com declives mais acentuados tem protegido, até
certo ponto, dos efeitos do assoreamento e a conseqüente coloração
das águas cristalinas. Considerando-se
que a Unidade Agrícola aparece descontinuamente e em pequenas
porções pela área, a definição de uma
dinâmica única para toda a ocorrência certamente cairá
na generalização.Todavia,
sabendo-se que as condições topográficas dos locais
onde é praticada a atividade agrícola são relativamente
suaves e que há uma preocupação em implantar curvas
de nível naqueles locais de declividade um pouco mais acentuada,
a dinâmica da Unidade Agrícola com um todo pode ser
definida atualmente como biostásica degradada regressiva.A
classificação como regressiva deve-se ao fato
de boa parte do ano estas áreas estarem desprovidas de qualquer
cobertura vegetal, o que pode implicar numa atuação da geomorfogênese,
estando próximas, em alguns pontos localizados, de uma dinâmica
do tipo resistásica.
7
- Considerações Finais
Como
descrito, as peculiaridades das paisagens da região de Bonito, MS,
implicam num manejo que tenha como ponto de partida, o respeito a tais
particularidades e, tendo como fim, uma convivência coerente e harmônica
entre as duas partes participantes:a
sociedade e a natureza. Considerando
que as unidades de paisagem representam porções do espaço
que funcionam como um conjunto com características internas semelhantes,
a delimitação e as informações apresentadas
acerca de cada unidade de paisagem, feita neste trabalho, procura ser um
ponto de partida para o conhecimento básico de alguns aspectos importantes
e necessários para um manejo adequado do ambiente da região
de Bonito, MS, e constituem fontes que podem servir de base para a execução
de zoneamentos geoecológicos tendo como fim a manutenção
das condições utilizáveis do ambiente para as gerações
futuras. Neste
sentido, este é um trabalho aberto a novas propostas de classificação
das paisagens em escala mais detalhada, que visem desenvolver temáticas
voltadas para a busca de um desenvolvimento sustentável na região
de Bonito, Estado de Mato Grosso do Sul.
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