CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

2.1. A prática metodológica da ciência da paisagem

O termo paisagem sempre esteve presente no temário geográfico ocupando um lugar de destaque, juntamente com a região, o meio e o espaço. Entretanto, mesmo sendo objeto central da Geografia desde os anos vinte deste século, a utilização do conceito de paisagem como direcionamento de pesquisas em Geografia, continuamente tem enfrentado críticas por algumas correntes do pensamento geográfico, baseadas na carga de subjetividade que o conceito traduz. Por outro lado, a busca de uma metodologia que reflita as reais necessidades de se conhecer e explicar a complexidade do espaço geográfico e o funcionamento da natureza, mostra que a (observação da) paisagem é para o geógrafo o ponto de partida; é a porta de entrada do mundo dele. É a paisagem que, segundo PASSOS (1996), "responde à orientação da Geografia para o concreto, o visível, a observação do terreno, enfim, para a percepção direta da realidade geográfica". Além disso, é na noção de paisagem que o geógrafo e outros cientistas da paisagem tem encontrado os subsídios necessários à compreensão global da natureza.

Não obstante, frente às diferentes maneiras de se apreender a paisagem, o geógrafo e todos os chamados cientistas da paisagem, devem apreendê-la de uma forma que demonstre sua viabilidade e importância científica, dentro de uma concepção notadamente embasada teórico-metodologicamente. Confirmando o exposto, BERTRAND (1971), esclarece que, "estudar uma paisagem é antes de tudo apresentar um problema de método".

Partindo desse pressuposto, a paisagem não deve ser vista apenas como determinada porção do espaço composta de elementos externos, visíveis e estáticos. A paisagem do geógrafo, apresenta-se como um mosaico, constituído de elementos concretos e abstratos, visíveis e invisíveis, que materializam as relações estabelecidas entre o homem e o meio, e que é a expressão da organização de todos os elementos no espaço geográfico. Portanto, a compreensão da paisagem transcende o aspecto visual e apresenta-se diferenciada numa escala têmporo-espacial. Neste sentido, RIBEIRO (1989), expõe que:

"apesar de a paisagem apresentar-se visível e concretamente percebida, a sua compreensão racional não deve restringir-se à mera descrição formal e subjetiva de seus componentes e, muito menos, às simples relações de causa e efeito entre eles. Seu estudo pode ser o ponto de partida para o entendimento racional de um processo mais amplo e abrangente, envolvendo a sociedade e a natureza".

Pode-se conceber que a paisagem situa-se na "interfácie" da natureza e da sociedade, existindo exclusivamente, mediante o estabelecimento de uma interrelação/conexão entre as duas esferas, ou seja, na medida em que a natureza é percebida e elaborada pelo homem, historicamente, constituindo o reflexo desta relação.

Desta feita, a paisagem é vista como o produto concreto das ações da sociedade, construída pelo trabalho social e, portanto, com uma estrutura impregnada de uma dinâmica comandada pelo homem, conjuntamente com a dinâmica da natureza. Sob a ação do homem, há uma ruptura na dinâmica natural da paisagem e esta passa a ser regida, então, por uma dinâmica dupla, em acordo com a estrutura instituída. As mudanças na paisagem passam a ser comandadas, basicamente, pela ação antrópica, responsável pela aceleração dos processos naturais. Desse modo, assume-se a premissa de que a natureza reage diante de qualquer operação que se instaure em suas estruturas e, que esta cria novas dinâmicas, mediante tais estruturas. Neste âmbito, a natureza é entendida da mesma maneira que RIBEIRO (1989) a define. Para o autor a natureza não é uma entidade passiva diante das intervenções humanas, nem um simples palco onde as relações sociais se concretizam, mas compõe-se de:

"um conjunto de elementos que possuem um comportamento regido por leis próprias e que reagem dialeticamente às pressões exercidas pela sociedade, que nela busca a realização de sua base material".

A compreensão dessa relação dialética entre os elementos da paisagem, implica na investigação dos elementos conjuntamente, isto é, deve-se passar a contemplá-la como uma dimensão global que só pode ser compreendida a partir de uma visão de mesma natureza, ou seja, global, identificando os processos decorrentes da interconexão dos elementos e que dão o caráter dinâmico à paisagem. É esta a concepção que BERTRAND (1971) propõe para os estudos da paisagem, à qual será a diretriz básica que procurar-se-á seguir no desenvolver deste trabalho, para a compreensão da organização do espaço geográfico da região de Bonito, e na elaboração das unidades básicas da paisagem, necessárias a uma melhor ordenação deste espaço.

A busca por uma visão integrada ou global de estudo da paisagem não é fato recente. Desde o século passado, tem-se ensaiado uma perspectiva de conjunto da estrutura da superfície terrestre.

A evolução da Geografia como ciência, acabou levando a um processo de setorização/especialização em diversas disciplinas, visto a amplitude de sua área de conhecimento. Se, por um lado, esta setorização inferiu grandes avanços individuais de cada disciplina, por outro lado, uma perspectiva de conjunto da estrutura da superfície da terra foi se esvaindo, implicando numa dificuldade de se resolver os problemas decorrentes da relação sociedade-natureza. É possível que foi a partir desse impasse que se colocou em evidência a necessidade de uma visão global e integrada da paisagem, que apenas recentemente vem ser concretamente concebida.

 

2.1.1. Conceito de paisagem

Antes de se adotar, neste trabalho, a concepção de paisagem como ponto de partida para a compreensão do funcionamento e da organização do espaço geográfico de Bonito, é necessário que se faça uma breve revisão histórica do modo como o termo tem sido usado dentro da Geografia.

Etimologicamente, o termo paisagem tem origem do latim: pagus, que significa país, no sentido de lugar, determinado setor territorial. A partir do pagus, derivaram diversas outras formas, nas mais diferentes línguas. No inglês e alemão, com o mesmo sentido, originam de land, derivando a landscape e landschaft, respectivamente.

A paisagem, originada na linguagem comum, pode ser definida de diferentes formas, dependendo de quem a define e de que prisma ela é vista. Para um pintor, por exemplo, uma paisagem não passa de uma pintura que retrata determinada porção do espaço, fictício ou real, constituído basicamente de elementos naturais (vegetação, relevo, rios, aves, etc.). Para um leigo, ela pode ser aquilo que ele vê de uma vista qualquer; apenas os elementos visíveis, externos.

De acordo com BOLÓS y CAPDEVILA (1992), algumas definições de paisagem encontradas atualmente nos melhores dicionários, foram formuladas até meados do século XVII. No Dicionário Webster, por exemplo, encontra-se a seguinte definição: uma paisagem é

"a imagem que representa a vista de um setor natural" (significado pictórico), "superfície terrestre, relevo de uma região em seu conjunto produzido ou modificado por forças geológicas" (significado de território físico), e, finalmente, "território ou parte da superfície terrestre que a vista pode observar simultaneamente, incluindo todos os objetos discernidos" (visão global do conjunto do mosaico).

Percebe-se na maior parte das definições uma visão subjetiva da paisagem, sempre associada a sua acepção pictórica.

De acordo com BOLÓS y CAPDEVILA (1992), o termo paisagem passa a ser profundamente utilizado na Geografia, a partir do século XIX e, em geral,

"concebida como o conjunto de formas que caracterizam determinado setor da superfície terrestre". (...) "Este concepto de ‘paisaje’ fue introducido en Geografia por A. Hommeyerem mediante la forma alemana Landschaft, entendiendo exactamente por este término el conjunto de elementos observables desde un punto alto. Se trata, en este caso, de subrayar en el paisaje el ámbito tangible de las formas resultantes de la asociación del hombre con os demás elementos de la superficie terrestre. En dicho contexto se habla de paisaje rural, urbano, cultural, natural, etc".

É difícil formular um conceito ideal de paisagem, uma vez que, tanto o leigo quanto o intelectual, podem encontrar sua própria concepção do termo. A paisagem pode ser vista como o local da vivência, e aí está carregada de um sentimento mais da percepção sensória, como também considerada apenas como uma porção do espaço, sem quaisquer vínculos sentimentais, encerrando uma perspectiva mais científica. Seguem-se algumas das definições de caráter científico, apresentadas por alguns expoentes dos estudos da paisagem:

· J.-P. DEFFONTAINES (1973, apud PASSOS, 1996), propôs a seguinte definição de paisagem:

"A paisagem é o suporte de uma informação original sobre numerosas variáveis relativas notadamente aos sistemas de produção e cuja superposição ou vizinhança, revelam ou sugerem interações".

· JEAN TRICART (1982, apud PASSOS, 1996), acrescenta, à definição de Deffontaines, a palavra "dado" e substitui "ações" por "interações" para afirmar que:

"Uma paisagem é uma dada porção perceptível a um observador onde se inscreve uma combinação de fatos visíveis e invisíveis e interações as quais, num dado momento, não percebemos senão o resultado global".

Descrevendo a forma de apreender a paisagem, PASSOS (1996), considera que:

"Há essencialmente duas maneiras de abordar o espaço que nos cerca, contendo as paisagens que nos interessam: aquela que toma o indivíduo como ponto de partida e aquela que considera o espaço como um objeto de observação. A primeira maneira liga-se à filosofia que faz do Eu o centro do mundo. Isto que cada um de nós percebe diretamente, não é um espaço neutro, mas uma esfera imaginária de sinais e de sinais pessoais. A segunda maneira liga-se à filosofia da extensão cartesiana. Neste caso, o cientista adota a atitude de um observador voluntariamente desligado do espaço-objeto, que é então examinado in vitro".

Outras contribuições à abordagem da paisagem podem ser observadas a seguir:

· G. BERTRAND (1972, apud PASSOS, 1996):

"Uma paisagem é, por definição, uma porção do espaço material. A análise espacial joga pois um papel privilegiado, em particular na classificação dos meios"

· O. DOLLFUS (1971, apud PASSOS, 1996):

"A paisagem se define, isto é, ela se descreve e se explica partindo das formas, de sua morfologia (no sentido amplo). As formas resultam de dados do meio ambiente natural ou são as conseqüências da intervenção humana imprimindo sua marca sobre o espaço".

· E. JUILLARD (1962, apud PASSOS, 1996):

"Desde longo tempo, uma das noções mais fecundas da Geografia é aquela das paisagens, isto é, uma combinação de traços físicos e humanos que dá a um território uma fisionomia própria, que o faz um conjunto senão uniforme, pelo menos caracterizado pela repetição habitual de certos traços".

· J.-L. PIVETEAU (1965, apud PASSOS, 1996):

"Mas a Geografia possui igualmente um objeto próprio, exterior ao espírito: a paisagem terrestre. O geógrafo se ocupa desta zona de contacto entre os lito-, hidro-, atmo-, bio-, e antroposfera que compõem a visão da terra".

· M. SORRE (1961, apud PASSOS, 1996):

"Os traços humanos das paisagens globais foram definidos... ao mesmo tempo por suas qualidades concretas, formas e cores, por sua posição e por sua área de extensão. Nós temos assim compreendido a que ponto estas duas noções, aquela de paisagem e aquela de região, estão ligadas no espírito do geógrafo. O espaço ocupado entra na definição da paisagem e a paisagem é característica de uma certa porção do espaço geográfico... Ele nos sensibiliza por seus atributos concretos. A força deste laço é tal que na Alemanha não se dissociam as duas noções exprimidas por uma mesma palavra, Landschaft".

· J. TRICART e J. KILIAN (1982, apud PASSOS, 1996), a partir do conceito de paisagem sugerido por BERTRAND (1972):

"É uma porção do espaço caracterizada por um tipo de combinação dinâmica, portanto instável, de elementos geográficos diferenciados (físicos, biológicos e antrópicos) que, ao reagirem dialeticamente entre si, fazem da paisagem um conjunto geográfico indissociável que evolui em bloco, tanto sob o efeito das interações entre os elementos que o constitui como sob o efeito da dinâmica própria de cada um dos elementos considerados separadamente"

· G. ROUGERIE (1969, apud PASSOS, 1996), destaca muito particularmente que

"é cômodo definir a Geografia como o estudo das paisagens... Mas a tarefa é audaciosa. Uma paisagem é um todo que percebemos por meio dos sentidos e, então, para o compreender, devemos desvendar todas as relações causais".

Devido a própria subjetividade do termo paisagem, este passou a ser muito discutido e analisado, o que levou a uma evolução e ampliação de sua concepção, tornando-se cada vez mais utilizado na produção da Geografia como ciência. O surgimento de problemas como os "conceitos de heterogeneidade e homogeneidade em relação com a escala, complexidade e globalidade das formas da superfície terrestre", levou cientistas e naturalistas a uma "reflexão cada vez mais profunda acerca da estrutura e organização da superfície terrestre em seu conjunto" (BOLÓS y CAPDEVILA, 1992).

A divisão das ciências em diversos ramos, em especial da Geografia, ainda no século XIX, conduziu a sensíveis avanços em cada área especializada, com novas descobertas e enfoques mais profundos, mas que incapacitavam a resolução de problemas que afetavam o conjunto da estrutura da superfície da terra e seu funcionamento. De acordo com BOLÓS y CAPDEVILA (1992), é nesse período que iniciaram-se estudos que procuravam entender a estrutura da superfície terrestre de forma conjunta.

Alexander von Humboldt (1769-1859), cientista alemão, apresenta idéias fundamentais para a compreensão da paisagem e da estrutura da superfície terrestre em seu conjunto, como a importância das relações existentes entre os elementos, e definindo este conjunto funcional como um "organismo vivo". Na verdade, o trabalho de Humboldt, resulta de conhecimentos concretos adquiridos durante as viagens pela Europa, Ásia e América, onde percebera a diferenciação fisionômica da paisagem. A sistematização destes conhecimentos de uma forma teórica e filosófica em suas obras – em especial n’O Cosmos – fez de Humboldt o primeiro a apresentar o funcionamento do conjunto da estrutura da superfície da terra de uma forma coerente. "Para Humboldt, a natureza (incluindo o homem) vive graças a uma mudança contínua de formas e movimentos internos". Humboldt adota uma concepção de natureza perfeitamente adaptada à concepção de paisagem integrada (BOLÓS y CAPDEVILA, 1992). A produção humboldtiana é, com certeza, referência fundamental no panorama da evolução do pensamento geográfico.

Ainda de acordo com informações de BOLÓS y CAPDEVILA (1992), a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, representam para a concepção científica da paisagem, o período da construção da maior parte de suas bases teóricas, quando, principalmente os discípulos de Humboldt, prosseguindo seus estudos a respeito da estrutura da superfície da terra, conseguem grandes avanços na concepção do termo. Ferdinand von Richtofen, alemão, explica a unidade e a complexidade da superfície terrestre, a partir da conexão de 3 esferas: a atmosfera, a litosfera e a hidrosfera e, como resultado desta interconexão aparece uma 4ª esfera: a biosfera. J. Ch. Smuts, anglo-saxão, lança a doutrina do "holismo", segundo a qual o universo, e também as suas partes constituintes, tem tendência a originar unidades que formam um todo de complicação crescente. "Estas unidades globais – compostas da matéria inerte, matéria viva e ‘matéria pensante’ (homem) –, não se reduzem nunca à soma de seus elementos constituintes", uma vez que cada elemento aparece disposto, interconectado, estruturado de uma determinada maneira.

A partir das teorias de Smuts, as análises das relações entre os elementos da paisagem passam a adquirir maior profundidade, tornando-se patente a noção de globalidade da superfície da terra, sendo esta constituída de conjuntos que apresentam tamanho e complicação crescente. Os elementos da superfície terrestre, de acordo com a doutrina holística, são intercambiantes e estão relacionados uns com os outros, dentro desta estrutura complexa, ou seja, cada elemento é constituinte de uma unidade integrada que, quando visto individualmente, não tem o mesmo significado.

Esta noção de unidade integrada é o primeiro indício da concepção sistêmica da paisagem, que começa a ser esboçada, de acordo com BOLÓS y CAPDEVILA (1992), nas décadas de 30 e 40 deste século, a partir da tomada de consciência pelo homem como sendo parte constituinte do complexo conjunto denominado natureza, ora bastante degradada. Neste contexto, tem origem as preocupações referentes aos problemas ambientais, à conservação da natureza, graças a qual a sociedade humana pode viver.

A criação da Ecologia, em 1869, pelo alemão Haekel (1834-1919), e a posterior definição e sistematização do conceito de ecossistema por A. G. Tansley, em 1934, trouxe grande contribuição para o avanço dos estudos da paisagem.

De acordo com BERTRAND (1971), as primeiras tentativas de apreender a paisagem na sua totalidade, são encontradas, principalmente entre os geógrafos alemães e soviéticos. A centralização da geografia francesa na noção de "região natural", não permitiu avanços significativos, uma vez que o conceito de "região natural" foge à compreensão racional tanto pela definição quanto pelo seu conteúdo.

A noção de "landschaft" – base da geografia germânica –, é o primeiro tratamento científico do conceito de paisagem. Da derivação do conceito de "landschaft" criou-se uma "landschaftskunde" desde a segunda metade do século XIX, que "tentou precisar as relações do homem e do meio", porém com uma pesada carga de determinismo, o que acabou por desviar, principalmente os geógrafos franceses, da ecologia recém-nascida, contrários à teoria determinista. Karl Troll, aproveitando-se de sua experiência com fotointerpretação, lançou as bases da "landschaftsökologie" ou o que chamamos de "geoecologia", "que é um estudo da paisagem do ponto de vista ecológico". Neste conceito, "as paisagens são divididas em ‘ecótopos’ (ou ‘landschaftzellen’) que são unidades inteiramente comparáveis ao ecossistema" (BERTRAND, 1971). Entretanto, embora BERTRAND (op cit), considere o método desenvolvido por Troll um grande avanço sobre os estudos fragmentados dos geógrafos e biogeógrafos, por reagrupar os elementos da paisagem e reservar um lugar para o fenômeno antrópico, conclui que "trata-se de um método mais ecológico que geográfico", uma vez que, não lança nenhuma tipologia sistemática para resolver a problemática da representação cartográfica.

Já os (ex-)soviéticos e também os americanos, "ultrapassaram por generalização o conceito de ecossistema e tentaram abordar as paisagens sob o aspecto estritamente quantitativo", considerando a paisagem "como um sistema energético cujo estudo se lança em termos de transformação e de produção bioquímica" (BERTRAND, 1971). Contudo, segundo BERTRAND (op cit), os próprios especialistas barraram-se diante da dificuldade da medição das transformações de energia dessa "geochemical landscape", mas isto já significa um direcionamento da paisagem "como objeto de estudo bem definido que apela para um ponto de vista metodológico".

Os anglo-saxãos experimentaram um tipo de geografia aplicada, com os métodos da CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), na Austrália. Em plena Segunda Guerra Mundial, a Austrália encontrava-se ainda desconhecida e as circunstâncias bélicas da época, urgiam de um rápido desenvolvimento do país. Para tanto, a CSIRO, lançando mão de um uso sistemático de fotointerpretação, chegou-se ao denominado levantamento do terreno, com a finalidade prática de sua tomada de posse. O método da CSIRO caracterizou-se pela adição de estudos setoriais executados por especialistas de equipes multidisciplinares, não podendo ser considerado como integrado ou global (PASSOS, 1996).

De 1950 até quase a década 1970 a evolução dos estudos da paisagem conheceu um hiato. Neste período, ela ficou praticamente esquecida como objeto de estudo da ciência geográfica.

É nos fins da década de 1960 que a paisagem, quase estranha à moderna Geografia Física, sem despertar interesses para estudos mais aprofundados, volta a fazer parte da concepção geográfica, quando o conceito de sistema é incorporado à Geografia, a partir da concepção de geossistema.

A introdução da abordagem sistêmica na ciência geográfica, de acordo com os conceitos da Teoria Geral dos Sistemas, criada por L. von Bertalanffy, baseia-se na modelização e quantificação dos elementos da paisagem, abrindo um novo caminho para o entendimento do funcionamento das paisagens.

Foi V. B. Sotchava, geógrafo (ex-)soviético, diretor desde 1960 do Instituto de Geografia de Moscou, quem definiu de forma precisa os conceitos de modelos e de sistemas, dentro da ciência da paisagem e, em 1963, diante da noção de "ecossistema" apresentada por Tansley, adapta o termo a um conceito geográfico, inserindo nele a categoria espacial e define o conceito de "geossistema". Para ele, o geossistema é um fenômeno natural que inclui todos os elementos da paisagem como um modelo global, territorial e dinâmico, aplicável a qualquer paisagem concreta (BOLÓS y CAPDEVILA, 1992).

Como esclarece BOLÓS y CAPDEVILA (1992), o geossistema, como todo sistema natural, é classificado como aberto, uma vez que nele entra e sai determinada quantidade de matéria e energia, fazendo dele um sistema dinâmico. Ele é composto pelo subsistema abiótico, subsistema biótico e subsistema organizado pelo homem. De acordo com a autora, entre estes subsistemas, encontram-se as correspondentes zonas de transição, denominadas "interfácies". Entre os subsistemas abiótico e biótico, temos o subsistema edáfico e, entre o conjunto dos subsistemas naturais e o sócio-econômico ou antrópico, temos os sistemas agrários ou agrossistemas.

De acordo com SOTCHAVA (1977), o paradigma sistêmico ou o estudo de geossistemas, aparece como uma nova alternativa para a orientação de pesquisas científicas na moderna Geografia Física e capaz de resolver o grave problema das subdivisões/especializações desta ciência, que acabaram por levar a um distanciamento do seu principal objetivo: a conexão da natureza e da sociedade. A concepção de geossistema para SOTCHAVA (op cit), vem conferir

"precisão aos limites entre a Geografia Física e as outras disciplinas geográficas, definindo ao mesmo tempo, a essência do seu campo de investigações e o seu lugar no conjunto da Geografia".

Segundo o autor,"no conceito moderno, a Geografia Física acha-se principalmente relacionada aos aspectos antrópicos do meio ambiente, às ligações diretas e de ‘feedback’ que aparecem neste caso". E para isto, há a necessidade do resgate dos estudos integrados entre todas as esferas e componentes da estrutura da superfície da terra. Para SOTCHAVA (op cit), o fato de o geossistema colocar em evidência não apenas os componentes da natureza, mas as conexões entre eles, implica na projeção para o estudo da dinâmica, da estrutura da natureza, da evolução dos geossistemas. O autor considera a cartografia a base de todos os estudos da paisagem ou geossistema e propõe uma taxonomia de geossistemas capaz de servir de apoio para sua delimitação e cartografação, nas diversas dimensões: planetário, regional ou topológico.

Conforme salienta TRICART (1977),

"O conceito de sistema é, atualmente, o melhor instrumento lógico de que dispomos para estudar os problemas do meio ambiente. Ele permite adotar uma atitude dialética entre a necessidade da análise – que resulta do próprio progresso da ciência e das técnicas de investigação – e a necessidade, contrária, de uma visão de conjunto, capaz de ensejar uma atuação eficaz sobre esse meio ambiente. Ainda mais, o conceito de sistema é, por natureza, de caráter dinâmico e por isso adequado a fornecer os conhecimentos básicos para uma atuação – o que não é o caso de um inventário, por natureza estático".

SOTCHAVA (1978), propõe uma classificação de geossistemas bilateral, a partir do binômio homogeneidade e diferenciação, princípios fundamentais de classificação. Denomina suas duas fileiras de "geômero" e "geócoro". O "geômero" é definido pela sua qualidade estrutural homogênea e o "geócoro", pela sua estrutura diversificada. Para o autor,

"o princípio de duas fileiras de classificação do geossistema introduz uma novidade na solução da questão sobre as correlações entre ambos, estabelecidos pelas representações sobre a tipologia (classificações) das paisagens e zoneamento físico-geográfico".

SOTCHAVA (1978), ressalta essa questão devido à importância dada, a partir dos anos 50, na ex-União Soviética, às cartas topológicas da paisagem para o zoneamento físico-geográfico, que careciam de uma classificação, necessária aos planejamentos governamentais.

TRICART (1979), tece uma série de críticas acerca das propostas de SOTCHAVA (1977 e 1978). Segundo o autor, a taxonomia de geossistemas apresentada por SOTCHAVA (1978), para a cartografação das paisagens, não são definidos com precisão, destacando que"os próprios princípios de classificação não são explicados. Os exemplos fornecidos são reduzidos e pouco demonstrativos (...) Confessamos nossa completa incompreensão".

Malgrado a importância das críticas de TRICART (1979), não é de interesse descrever aqui todos os pontos levantados pelo autor, sejam eles positivos ou negativos, alusivos à proposta de SOTCHAVA (1977 e 1978), e sim, destacar a contribuição dada por este último para os avanços dos estudos da paisagem e do geossistema, como procedimento metodológico. Destaca-se apenas que, para as amplas paisagens soviéticas, o sistema taxonômico de Sotchava forneceu meios para sua cartografação, embora quando tratar-se das paisagens francesas, complexas e de extensões menores, comuns a Tricart, dificulta-se a aplicação de tal taxonomia.

Uma proposta de estudo global da natureza vem ser apresentada por G. Bertrand da Escola de Toulouse, na França, em 1968, no lançamento do texto "Paysage et Géographie Physique Globale: esquisse méthodologique", concebendo a paisagem a partir de uma visão sistêmica [Nota: É interessante ressaltar que Bertrand, juntamente com Sotchava, apresentaram de uma forma lógica, um modelo capaz de apreender a paisagem integralmente, resolvendo em grande parte dificuldade da maioria dos geógrafos e outros cientistas da paisagem em apuros desde o século passado]. Para ele,

"a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados no espaço. É numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução".

BERTRAND (1971), apresenta claramente nesta definição, a relação estrutura-dinâmica da paisagem, inserindo uma concepção de Geografia Física Global, no âmbito da Geografia, utilizando o conceito de geossistema. O geossistema, a priori, para BERTRAND (op cit) é uma categoria espacial caracterizada por uma relativa homogeneidade dos seus componentes, cuja estrutura e dinâmica resulta da interação entre o "potencial ecológico", a exploração biológica" e a "ação antrópica", e que se identifica por um mesmo tipo de evolução. Na concepção do autor, o geossistema estaria em estado de clímax quando o potencial ecológico e a exploração biológica encontrassem em equilíbrio. Intervenções humanas de qualquer natureza no meio, implicariam num rompimento desse equilíbrio. O esboço teórico apresentado pelo autor para explicar o funcionamento do geossistema é o seguinte:

Em posteriores discussões e críticas feitas acerca da proposta de BERTRAND (1971), concluiu-se que o geossistema, assim como o ecossistema, é apenas uma abstração, um modelo teórico, como fora proposto por SOTCHAVA (1977); que não é possível enquadrá-lo concretamente no espaço, no intuito de delimitar e descrever este ou aquele geossistema, como uma categoria taxocorológica. O próprio G. Bertrand, em produções subseqüentes (1978) [Nota: BERTRAND, G. e BEROUTCHACHVILI, N. Le géosystème ou système territorial naturel. Revue Géographique des Pirénées et du Sud-Ouest. Toulouse, 1978, 49 (2), p. 168 (nota de rodapé)], na busca de uma uniformização de conceitos e simplificação da linguagem, passa a admitir o geossistema apenas como um modelo teórico de apreensão global da paisagem.

Quando G. Bertrand lança na França, em 1968, o texto "Paysage et Géographie Physique Globale: esquisse méthodologique", este aparece como uma revolução metodológica dentro da Geografia Física. A concepção de paisagem dinâmica e integrada, que o autor apresenta, juntamente com propostas para se resolver o problema de taxonomia, de dinâmica, de tipologia e de cartografia das paisagens, a partir da noção de geossistema, impõe verdadeira reviravolta no âmbito da Geografia Física moderna, que parece adentrar-se numa nova fase. Todavia, embora o conceito de geossistema seja concebido por ele como sendo composto por três subsistemas, na verdade BERTRAND (1971), trabalha efetivamente, apenas em cima de dois subsistemas: do meio abiótico e da exploração biológica; faz uma discussão um tanto superficial da ação antrópica.

G. Bertrand, em seu outro trabalho "Pour une histoire écologique de la France rurale" [Nota: BERTRAND, G. Pour une histoire écologique de la France rurale. In: DUBY, G & WALLON, A. (dir.). Histoire de la France rurale. Seuil, 1975, v. 1], publicado em 1975, faz um tratamento mais aprofundado do fenômeno antrópico, dentro da concepção geossistêmica, dando uma importância fundamental a este, como elemento determinante na dinâmica e nas transformações históricas das paisagens rurais francesas. O autor, reconhece as paisagens francesas como um resultado das sucessivas combinações de sociedades, que imprimiram no espaço, a relação entre ambos estabelecida.

 

2.1.2. O sistema taxonômico de BERTRAND

BERTRAND (1971), apresenta seu sistema de classificação taxocorológico das paisagens, comportando seis níveis têmporo-espaciais: a zona, o domínio e a região natural (níveis superiores) e o geossistema, o geofácies e o geótopo (unidades inferiores). Destaca-se, entretanto, que suas pesquisas centraram-se nas unidades inferiores, onde o autor elege o geossistema como a escala mais apropriada para os estudos dos fenômenos antrópicos, por ser uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados.

Dentro do geossistema, tem-se os geofácies, unidades fisionomicamente homogêneas, caracterizada por "uma mesma fase de evolução geral". Sua dimensão compreende algumas centenas de metros quadrados, em média. O geótopo corresponde à "menor unidade homogênea diretamente discernível no terreno", que compreende dimensões entre o metro quadrado ou mesmo o decímetro quadrado.

As revisões teóricas feitas em cima da proposta metodológica de BERTRAND (1971), levaram a um processo que tornou o método mais versátil e simplificado – o que de certa forma é bom e necessário – ou tornando-o simplista, devido às próprias dificuldades de sua aplicação em ambientes diferentes daqueles tão homogêneos, exemplificados em seu texto original. Isto fez a proposta de BERTRAND (op cit), menos "revolucionária".

Neste processo, pode-se distinguir duas correntes dentro dos estudos geossistêmicos: a corrente historicista e a corrente quantitativa. Para a corrente historicista, a ação antrópica possui um peso específico, comparável aos dois pilares que originalmente sustentavam a idéia de "complexo territorial natural": o potencial ecológico e a exploração biológica. Nesta corrente, a paisagem é vista como um produto histórico da relação sociedade-natureza, como propôs Toulouse. Já a corrente quantitativa, é mais crítica e pragmática: recupera-se a "análise setorial", porém não desde o ponto de vista da descrição individual dos elementos geográficos que configuram a paisagem, mas desde a quantificação destes através do tratamento informático: determinar e cartografar as zonas homogêneas (unidades básicas da paisagem). Esta corrente, desenvolvida, principalmente, pelos soviéticos, aproximou-se das chamadas ciências exatas (química, física, matemática, informática etc.), procurando apreender a paisagem quantitativamente, através de modelos e gráficos. Os avanços conseguidos pelos soviéticos na abordagem integrada da natureza, foram bastante expressivos.

Malgrado as críticas, toda teorização e discussão estabelecida em torno da proposta de G. Bertrand, por si só, traduzem sua relevância e validez dentro da concepção dos estudos da paisagem, ou de uma Geografia Física global. O mérito de G. BERTRAND, reside no seu desejo de ultrapassar os estágios da descrição e da classificação para atingir aquele da sistematização dos elementos da paisagem e de seus atributos. Esse autor que preconiza um método global a priori, fundado sobre a dedução a partir de modelos, está inteiramente consciente do bloqueio atual da metodologia geográfica:

"A Geografia Física, pelo menos aquela que se pratica habitualmente, repousa sobre uma considerável contradição interna: sintética por seu objeto, ela não o é freqüentemente no seu método. Ela tenta entender os conjuntos naturais a partir de passos setoriais (geomorfologia, climatologia, hidrologia, biogeografia...). A síntese intervém quase sempre a posteriori... Aliás, trata-se mais freqüentemente de uma síntese com finalidade geomorfológica que de uma apreensão global da paisagem"(BERTRAND, 1971b).

A definição de paisagem introduzida por BERTRAND (1971), redimensiona a própria concepção do termo, fugindo de uma apreensão trivial, limitada apenas à percepção sensória do espaço geográfico,

"evidenciando o caráter interativo e integrador da ‘combinação dinâmica’ entre os elementos da natureza e da sociedade, assim como também ressalta o processo dialético das transformações que se verificam na própria paisagem" (RIBEIRO, 1989).

Se por um lado, esta ampliação do conceito de paisagem, implicou num enriquecimento muito maior do termo, dentro da ciência geográfica, por outro lado, vem trazer desordem na sua concepção universal, pois, segundo RIBEIRO (1989),

"faz com que a idéia mais comum de paisagem perca sua identidade original, e isso pode representar uma desvantagem para a linguagem da ciência geográfica, uma vez que se passaria a utilizar um conceito simples para designar um conteúdo muito mais complexo".

Sem embargo, a questão da dinâmica da paisagem, movida por uma relação dialética entre seus componentes, constitui um dos pilares centrais da abordagem bertrandiana. É em cima desta questão que G. Bertrand desenvolve todas as outras etapas de seu esboço metodológico.

Após a proposta de BERTRAND (1971), a relação entre os elementos passa a ser mais importante do que os elementos em si, quando tratados isoladamente, isto é, as conexões instauradas entre cada um dos elementos (da paisagem), tornam-se determinantes na compreensão da dinâmica geral da paisagem. Isto é perceptível quando o autor destaca que:

"por essa dinâmica interna, o geossistema não apresenta necessariamente uma grande homogeneidade fisionômica. Na maior parte do tempo, ele é formado de paisagens diferentes que representam os diversos estágios da evolução do geossistema".

Quer dizer, a homogeneidade do geossistema (da paisagem) se dá mais ao nível das relações e dos processos do que da própria expressão fisionômica. Isto implica na exclusão da possibilidade de delimitações simplórias da paisagem, ao nível puramente da aparência.

A introdução do homem como elemento constituinte e agente modificador da paisagem – considerando a ação antrópica como um terceiro subsistema –, dentro da concepção global de paisagem, destaca a noção de paisagem de Bertrand como a primeira a dar ao homem a sua devida importância, no seio da evolução das paisagens.

Um outro ponto de destaque dentro da proposta de BERTRAND (1971), é quando o autor ressalta a necessidade de uma reflexão interdisciplinar, no afã de explorar técnicas específicas de outras disciplinas, como climatologia, geomorfologia, fitossociologia etc., numa contribuição para a compreensão da paisagem e resolução dos problemas que, segundo ele, "não pode ser realizado senão no quadro de uma geografia física global". BERTRAND (op cit), refere-se ao antigo problema da setorização das disciplinas, que distanciaram e até mesmo deixaram a Geografia Física sem um objetivo claro e que, diante da eclosão da problemática ambiental, são incapazes de, cada uma por si, deliberar resoluções seguras para cada questão.

O sistema taxonômico apresentado por BERTRAND (1971), reflete sua preocupação quanto às escalas de pesquisa e a delimitação e cartografação das paisagens, dentro de uma concepção dinâmica, onde destaca três diretrizes principais que devem ser trilhadas para a delimitação das unidades de paisagem. Primeiro, destaca a priorização na busca das "descontinuidades objetivas da paisagem", ao invés de impor categorias pré-estabelecidas. Segundo, a paisagem deve ser delimitada tal como ela se apresenta, não tentando estabelecer uma síntese "média", pela superposição de unidades elementares, quer pela técnica cartográfica ou técnica matemática, o que exclui a possibilidade de uma relação dialética entre os seus elementos. Neste caso, destaca o autor, "a delimitação será mais grosseira, mas as combinações e as relações entre os elementos, assim como os fenômenos de convergência aparecerão mais claramente". Por último, ressalta a necessidade de uma referência escalar, ou seja, situar as paisagens na dupla perspectiva do tempo e do espaço. Portanto, para BERTRAND (op cit), quando se fala em limites, não se fala apenas em limites espaciais (cartografia) ou limites temporais (cronologia), mas também em limites da dinâmica paisagística.

A fisionomia da paisagem, para BERTRAND (1971) é, quase sempre, o ponto de partida para a definição de suas unidades básicas. BERTRAND (op cit) vê a vegetação como a expressão das características geoecológicas da paisagem, ou seja, a vegetação aparece como o principal elemento integrador e sintetizador da paisagem, que traduz, a priori, as suas descontinuidades objetivas. Todavia, apenas a fisionomia não é a melhor representação do funcionamento da paisagem. Para tanto, escolhe uma tipologia dinâmica "que classifica os geossistemas em função de sua evolução e que engloba através disso todos os aspectos da paisagem". A tipologia dinâmica da paisagem, formulada por BERTRAND (op cit), vem apoiada na teoria bio-resistásica de ERHART (1955, 1956 e 1958). Para isto, leva em consideração o estágio evolutivo da paisagem, sua situação em relação ao clímax e o sentido geral da dinâmica (progressiva, regressiva ou estável). Propõe uma classificação tipológica dinâmica para os geossistemas que, segundo ele, deve ser sumariamente colocada na dupla perspectiva do tempo e do espaço. No tempo, refere-se à herança histórica dos geossistemas. No espaço, considera-se a justaposição dos geossistemas. Sua classificação, comporta dois grupos: os geossistemas em bioestasia e os geossistemas em resistasia:

1. GEOSSISTEMAS EM BIOSTASIA a) Geossistemas climácicos, plesioclimácicos ou subclimácicos

b) Geossistemas paraclimácicos

c) Geossistemas degradados com dinâmica progressiva

d) Geossistemas degradados com dinâmica regressiva

2. GEOSSISTEMAS EM RESISTASIA a) Geossistemas com geomorfogênese natural

b) Geossistemas regressivos com geomorfogênese ligada à ação antrópica

ERHART (1955), na elaboração da teoria da bio-resistasia, levou em consideração a importância que a cobertura vegetal exerce na evolução das paisagens. A vegetação é responsável, segundo o autor, pela proteção dos meios contra os processos morfogenéticos. O termo bioestasia tem o significado de equilíbrio biológico e designa, portanto, meios morfodinamicamente estáveis, enquanto resistasia refere-se àqueles meios que sofreram uma ruptura do equilíbrio biológico. Desse modo, o autor conclui que, nos meios em bioestasia, há a preponderância da pedogênese em detrimento da morfogênese. Por outro lado, nos meios em resistasia, ocorre justamente o oposto.

TRICART (1979), questiona BERTRAND (1971) por utilizar a teoria bio-resistásica de H. Erhart, uma vez que, segundo este autor, esta exclui a possibilidade da dialética da natureza. Propõe, TRICART (1977), uma classificação ecodinâmica dos meios ambientes em 3 estágios: "meios estáveis", "meios intergrades" e "meios fortemente instáveis", baseado na intensidade, freqüência e interação dos processos evolutivos, possibilitando uma abordagem dialética da paisagem, faltante na teoria de Erhart.

Os "meios estáveis" de TRICART (1977), correspondem basicamente aos meios em bioestasia de Erhart, sendo em termos gerais, a pedogênese o processo de maior expressão, decorrente de uma "proteção" que Tricart denomina fitoestasia, e não bioestasia como propõe Erhart, por ser a cobertura vegetal a responsável por este fenômeno.

"O modelado evolui lentamente, muitas vezes de forma insidiosa, dificilmente perceptível. Os processos mecânicos atuam pouco e sempre de modo lento. (...) As condições se aproximam daquelas que os fitoecologistas designam pelo termo clímax".

Os "meios fortemente instáveis", segundo a classificação de TRICART (1977) são aqueles em que "a morfogênese é o elemento predominante na dinâmica natural, e fator determinante do sistema natural, ao qual todos os outros elementos estão subordinados". Este fenômeno pode ser desencadeado por paroxismos naturais como tectonismo, vulcanismo etc., ou pela degradação antrópica, especialmente com a retirada da cobertura vegetal. Correspondem, grosso modo, aos meios em resistasia de Erhart.

Tricart considera que há uma passagem gradual entre um meio estável e um meio instável. Para isto tomou emprestado do vocabulário dos geólogos o termo intergrade. Os meios por ele chamado de "intergrades" asseguram essa passagem gradual entre os outros dois meios, pois segundo o autor, "não existe nenhum corte; ao contrário, estamos na presença de um contínuo". Os "meios intergrades" são caracterizados, de acordo com TRICART (1977), pela "interferência permanente da pedogênese e da morfogênese, exercendo-se de maneira concorrente sobre um mesmo espaço". São meios delicados e suscetíveis a fenômenos de amplificação, podendo tornarem-se meios instáveis.

É inconteste a importância das revisões feitas por J. Tricart para o desenvolvimento dos estudos relativos ao meio ambiente, no que concerne a uma classificação das paisagens que expresse sua dinâmica evolutiva. Tanto H. Erhart quanto J. Tricart, buscam no balanço morfogênese/pedogênese os fundamentos para a classificação dos meios ambientes, tendo a esculturação do relevo como parâmetro básico do sistema evolutivo. A movimentação ou perda de material sólido constitui-se no elemento principal para a classificação dos meios ambientes em ambos os autores.

 

2.2. As paisagens cársticas

Visto a área pesquisada assentar-se sobre litologias predominantemente carbonáticas, estas possibilitam o desenvolvimento de feições cársticas. Portanto, sente-se a necessidade de apresentar uma rápida descrição das características e funcionamento e deste tipo de paisagens, necessária para uma melhor compreensão das condições regionais.

O termo carste, derivado do karst servo-croata, está diretamente relacionado com as paisagens calcárias. De acordo com BIGARELLA et alii (1994), o termo foi inicialmente empregado para designar a morfologia regional das formações calcárias encontradas nas proximidades de Rjeka, na Iugoslávia. Dentre os primeiros pesquisadores que sistematicamente estudaram o fenômeno cárstico, podemos citar Albrech Penck e seus discípulos Cvijic e Grund, ainda nos fins do século XIX.

Estando a origem do termo ligada a morfologia desenvolvida sobre rochas calcárias, o processo de carstificação tem nas rochas carbonáticas, o pré-requisito básico para seu estabelecimento: o alto grau de solubilidade. KOHLER (s/d), descreve o relevo calcário como sendo uma rocha sedimentar formada essencialmente de Carbonato de Cálcio (CaCO3). Sua origem pode ser biológica/orgânica ou química. Os de origem biológica ou orgânica são resultantes da acumulação de restos de conchas, corais etc., e os de origem química aparecem a partir da precipitação do CaCO3, presente em soluções aquosas.

Não obstante, para o desenvolvimento das formas cársticas típicas, há a necessidade de algumas determinantes fundamentais, como: os depósitos calcários terem uma extensão regional, com blocos de grande espessura e de ocorrência próxima à superfície – com diferença de nível considerável entre o topo da formação calcária e o lençol freático –, acamamentos delgados, fissurados e fraturados, para que as feições não sejam apenas isoladas e insuficientes para a caracterização de um verdadeiro carste (BIGARELLA et alii, 1994).

As paisagens cársticas se distinguem das outras paisagens por uma característica que lhe é muito peculiar: a preponderância da circulação hídrica subterrânea (criptorréica), em detrimento da circulação sub-aérea. Esta peculiaridade decorre da fácil dissolução das rochas calcárias frente às águas ácidas ricas em anidrido carbônico e matéria orgânica em decomposição, que produzem vazios no interior da rocha, permitindo o estabelecimento de uma rede hidrográfica interna.

READING et alii (1995) descreve a dissolução dos calcários como uma complexa série de reações químicas.

"It can be described simply as the reaction of calcium carbonate or calcite (CaCO3) or sometimes magnesium carbonate or dolomite (MgCO3) with dilute carbonic acid (H2CO3) to form calcium bicarbonate (Ca(HCO3)2)" – [Pode ser descrita simplesmente como a reação do carbonato de cálcio ou calcita (CaCO3) ou às vezes carbonato de magnésio ou dolomito (MgCO3) com ácido carbônico (H2CO3) diluído para formar o bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2)].

A seguinte reação demonstra como ocorre a dissolução das rochas calcárias:

CaCO3 + CO2 + H2O « Ca(HCO3)2

O processo de dissolução das rochas calcárias, predomina sobre os outros processos erosivos, o que imprime na paisagem uma morfologia bastante específica, de aspecto ruiniforme, ou seja, o carste tem na água, o principal agente de gênese e evolução das formas, através do processo de corrosão química.

De acordo com KOHLER (s/d):

"a região calcária se caracteriza por grandes plataformas desnudas, com poucos ou nenhum vale que a atravessa, porém com depressões fechadas de formas e dimensões variadas. Neste relevo não se reconhece os sinais da erosão fluvial, que se explica pela ausência quase total de circulação superficial, mesmo que o clima seja suficientemente úmido para que possa estabelecer uma rede permanente".

LLADÓ (1970, apud BIGARELLA et alii, 1994) destaca a existência de canyons profundos que às vezes atravessam as regiões calcárias, porém, abertos por rios procedentes de áreas extra-cársticas, além da cobertura vegetal escassa ou nula em grande números de regiões cársticas.

BIGARELLA et alii (1994), destaca que:

"a gênese e evolução do carste dependem de numerosos fatores, entre eles litologia, estratigrafia, tectônica, paleoclima, clima atual e recobrimento florístico. Este conjunto de fatores condicionam a maior ou menor expressão das formas cársticas numa determinada região".

Neste sentido, podemos encontrar diversos tipos de carste, dependendo do tipo de ambiente a que este está submetido.

Segundo KOHLER (s/d), a dissolução do calcário é mais lenta em regiões de altas temperaturas que em regiões frias, uma vez que, a precipitação do CaCO3, se dá mais rapidamente em águas frias. Entretanto, a quantidade de chuvas, aliada à agressividade da água acidificada pelo solo rico em húmus e a rapidez da difusão do gás carbônico, compensam as altas temperaturas. Desse modo, o grau de solubilidade das rochas calcárias, nas regiões tropicais, tornam-se quantitativamente superior àquele das regiões temperadas e frias, fazendo da morfologia cárstica das regiões tropicais úmidas altamente desenvolvidas, ostentando uma riqueza de formas que difere em parte daquelas das regiões temperadas. Já os efeitos da erosão mecânica, são muito mais expressivos nestas últimas, visto a ação do congelamento. A ação bioquímica de microorganismos e raízes dos vegetais no processo de dissolução dos calcários, também é importante nas regiões tropicais úmidas.

A percolação das águas pelo interior das rochas calcárias, tornam estas ricas em Carbonato de Cálcio (CaCO3), originando rios cristalinos de aparência fascinante. O desprendimento do gás carbônico da solução aquosa promove a precipitação do CaCO3 no leito dos rios formando concreções rochosas de CaCO3 puro, chamadas de travertinos. A formação dos travertinos ocorre especialmente nos locais onde os rios e córregos apresentam corredeiras ou cachoeiras, o que torna a precipitação do CaCO3 mais expressiva.

No carste, reconhece-se dois tipos de erosão: a erosão destrutiva das formas, como as lapiás, dolinas, uvalas, poljés, cavernas etc., e a erosão construtiva, representada pelos espeleotemas (estalactites, estalagmites, etc.), pelos travertinos etc. O processo de carstificação produz micro e macroformas.

Se a origem do termo carste está intimamente ligada à litologia calcária, hoje sua designação compreende um conteúdo mais amplo,

"abrangendo todos os aspectos morfológicos oriundos de processos de dissolução encontrados na topografia característica das rochas calcárias e dolomíticas" (BIGARELLA et alii, 1994).

2.2.1. A morfologia cárstica

A evolução do modelado cárstico, segue uma seqüência de fases denominadas por LLADÓ (1970, apud BIGARELLA et alii, 1994) como: embrionária, juventude, maturidade e senilidade. Compreende uma seqüência de fenômenos que se repetem, formando ciclos escalonados no tempo, podendo interromper-se em qualquer um dos períodos (BIGARELLA et alii, 1994).

A fase embrionária corresponde àquele período do início do processo de carstificação da paisagem, que transforma um relevo com drenagem epigéia (superficial) para uma drenagem hipogéia (subterrânea). Tanto em superfície como em subsuperfície, a evolução cárstica se manifesta. Na fase da juventude, percebe-se a formação de campos de lapiás, favorecida pelo domínio da circulação superficial, o que em condições favoráveis originam as dolinas. Estas últimas, desenvolvendo-se de maneira acentuada, originam os "campos de dolinas", recobrindo extensas áreas. No período de maturidade, ocorre a coalescência das dolinas, perdendo seus contornos circulares e evoluindo para as uvalas. Os estágios finais desta fase, são marcados pelo surgimento dos poljés, quando a captação de água se faz muito intensamente, fazendo desaparecer por completo a drenagem superficial. O último período da evolução do modelado cárstico – senilidade –, caracteriza-se pela degradação e destruição das formas superficiais, pela ausência de dolinas, que foram transformadas em uvalas e poljés. As vertentes são pouco escarpadas e muito baixas. Com a degradação da região cárstica, restam as formas residuais de uma paisagem ruiniforme. Este período é marcado pelo retorno da circulação epigéia (BIGARELLA et alii, 1994).

São raros os casos em que uma região cárstica tenha, por completo, passado pelas 4 fases acima descritas. Normalmente, não há uma evolução por completo da área toda, encontrando-se áreas mais evoluídas e áreas com o processo de carstificação bastante atrasado, o que depende da estrutura das rochas, das condições climáticas, da atividade tectônica, etc.

O predomínio da corrosão química em detrimento dos processos erosivos, associado a processos físicos – mecânicos, em especial –, imprime na paisagem de litologia calcária uma morfologia bastante original. Os vales aplainados – os poljés –, interrompidos pelos morros calco-dolomíticos arredondados que se erguem abruptamente– os chamados mogotes –, quase sem uma transição do plano para o inclinado, indicam paisagens cársticas. Formas residuais ou ruiniformes também são indícios importantes da carstificação da paisagem.

Dentre as formas produzidas pelo processo de carstificação pode-se distinguir, apoiado na descrição feita por BIGARELLA et alii (1994), dois grupos: as formas exocársticas ou superficiais e as formas endocársticas ou subterrâneas. As formas superficiais são representadas por:

· Lapiás - é um tipo de microforma do carste correspondente a caneluras ou sulcos superficiais de dissolução na superfície das rochas cársticas, produzidas, se recobertas por solo, pela ação dos ácidos húmicos; quando aparecem a rocha nua, o escoamento das águas pluviais é que são responsáveis pelo seu aparecimento;

· Dolinas - as dolinas são feições principais do relevo cárstico. Correspondem a depressões no terreno de forma circular ou oval, originada, principalmente por dissolução e subsidência ou colapso, geralmente numa fissura ou interseção de diáclases. Podem apresentar desde alguns metros a mais de uma centena de metros. A evolução das dolinas pode se dar arealmente, conduzindo a outras formas fechadas (uvalas e poljés) ou verticalmente em profundidade, originando formas abertas (abismos ou sima);

· Uvalas - o termo é utilizado para designar depressões alongadas, originadas, provavelmente, pela evolução e coalescência de duas ou mais dolinas. As uvalas correspondem, portanto, a uma evolução de dolinas mais em superfície do que em profundidade.

· Poljés - na literatura geomorfológica internacional, o termo é utilizado para designar uma planície cárstica ou depressão muito grande, originada por dissolução extensiva de áreas carbonatadas pela ação das águas. Enquanto as uvalas são de extensões reduzidas, os poljés abrangem grandes porções. Segundo LLADÓ (1970, apud BIGARELLA et alii, 1994), os poljés são originários da evolução das uvalas. Nos poljés são encontradas as áreas mais férteis do relevo cárstico, onde desenvolve a "terra rossa".

· Canhões ou Canyons - correspondem a vales de flancos retilíneos e íngremes, cavados, normalmente, por rios oriundos de áreas extra-cársticas.

· Sumidouro ou Ponor - esta forma topográfica refere-se ao local onde o curso d’água penetra no subsolo. Os sumidouros são, via de regra, derivados de dolinas desenvolvidas verticalmente, interligando vazios subterrâneos desenvolvidos horizontalmente. O retorno da água em superfície ocorre nas chamadas ressurgências.

· Abismos ou Sima - na literatura espeleológica, o termo designa uma cavidade desenvolvimento vertical, com desenvolvimento resultante de estreitas relações entre o carste e a estrutura da rocha calcária. Os abismos podem ser verticais, inclinados ou mistos. No caso dos verticais, estes podem atingir até 100 m de profundidade.

A evolução do extracarste, a partir do processo de dissolução, desenvolve uma variada morfologia residual, como os humes (relevos residuais no interior dos poljés), mogotes (morros cônicos residuais ocorrentes principalmente no carste tropical), torres (formas agudas ou cônicas com base não superior a 30 m), entre muitas outras formas parecidas.

Dentre as formas endocársticas, ainda apoiado em BIGARELLA et alii (1994), distinguiu-se algumas delas:

· Cavernas - correspondem a um leito natural subterrâneo, com água ou seco, ocupando um espaço vazio, estendendo-se vertical ou horizontalmente, geralmente acompanhando planos de estratificação ou linhas de maior fraqueza da rocha. A dissolução e a corrosão são os principais processos na formação das cavernas, além da ação abrasiva. Uma caverna é formada por diversos compartimentos internos: corredores, salas, salões, galerias e acidente verticais, como as estalactites e as estalagmites. As estalactites e estalagmites são formas de deposição químicas originadas pela evaporação da água que percola pelas diáclases com Bicarbonato de Cálcio, e depositando o CaCO3. A deposição no teto das cavernas dá origem às estalactite, e a deposição no chão, cria as estalagmites. Quando uma estalagmite une-se a uma estalactite temos o surgimento de uma coluna. De acordo com LLADÓ (1970, apud BIGARELLA et alii, 1994) uma caverna passa a designar-se gruta quando possui espeleotemas, representando grande beleza cênica.

· Travertinos - correspondem a um tipo especial de espeleotema apresentando-se em formas de diques formados por calcita. Ocorrem no interior de cavernas ou também nos rios, em locais de corredeiras ou cachoeiras.

Ratificando o afirmado anteriormente, muitas dessas formas extra ou endocársticas podem estar ausentes em algumas regiões cársticas, visto o estágio evolutivo do processo de carstificação da paisagem, que é determinado – repete-se – pelas condições climáticas e pela estruturação litológica.

 

2.3. Os estudos da paisagem a partir do sensoriamento remoto

 

A utilização do sensoriamento remoto como ferramenta básica para levar a cabo os objetivos deste trabalho, urge de algumas considerações a respeito da sua importância dentro deste tipo de estudo. Para tanto, segue-se uma breve discussão do sensoriamento remoto e os estudos de paisagem.

No texto Paisagem & Ecologia, publicado em 1979, J. Tricart destaca o surgimento do sensoriamento remoto como um nova ferramenta útil a ser explorada para os estudos da paisagem. De acordo com o autor, os sensores são capazes de captar informações na paisagem não perceptíveis para os olhos humanos, uma vez que registram a energia emitida e/ou refletida pelos corpos em diferentes comprimentos de onda, dentro do espectro eletromagnético.

As imagens de satélites de diferentes bandas e tipos de satélites, dentro do sensoriamento remoto, são os principais instrumentos utilizados nos estudos climáticos, hidrológicos ou, no geral, paisagísticos. Elas são, na verdade, a melhor síntese global da paisagem, registrada em forma digital, ou seja, elas representam o resultado combinado de todos os elementos constituintes da paisagem, registrados de uma forma que torna os estudos mais eficientes e rápidos.

Dentre as inovações trazidas pelo sensoriamento remoto aos estudos geográficos e de outras ciências, destaca-se a escala têmporo-espacial com que as informações são produzidas, tornando a observação da superfície terrestre praticamente sincrônica e, também, a vantagem da repetitividade automática, permitindo confrontar situações diferentes e sincrônicas sobre grandes extensões .

Malgrado todas a vantagens que o sensoriamento remoto pode fornecer aos estudos geográficos, em especial aos estudos da paisagem, o qual propõe-se desenvolver aqui, ele deve ser admitido apenas como uma ferramenta a mais, não dispensando métodos tradicionais, como os trabalhos de campo, visto a escala de generalização das informações que estes registram. Aliás, os trabalhos de checagem no campo são imprescindíveis após o tratamento das imagens digitais. Além disso, é necessário uma boa base teórica, tanto a respeito do comportamento dos alvos e a resposta emitida por eles no processo de registro de informações digitais, quanto do comportamento da paisagem como entidade resultante da integração de elementos.

PASSOS (1996), alerta para o fato da natureza das interações no interior das paisagens diferirem-se segundo os tipos de meios naturais, tornando claro que "será, pois, ilusório e incorreto querer estabelecer um tipo de catálogo de descrição das paisagens" aplicável a qualquer paisagem ou tipo de sensoriamento. E mais, o uso do sensoriamento remoto "não é totalmente válido e eficaz, senão quando inserido no conjunto dos nossos conhecimentos sobre a dinâmica da paisagem".

Quando munidos de conhecimentos básicos, a visualização de imagens de satélites em diferentes bandas e em variadas composições coloridas permite tirar conclusões bastante precisas a respeito da paisagem real, uma vez que, cada canal ou composição colorida realça determinados elementos da paisagem: corpos líquidos, vegetação, plantações agrícolas, solos nus etc. Além disso, tais produtos cartográficos podem ser facilmente geoprocessados via Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s), tornando as informações mais completas e estratégicas. Diversos são os softwares encontrados hoje no mercado, bastante eficientes no tratamento de imagens digitais.

O papel desempenhado pelos satélites no sistema informacional mundial é incontestável. Dentro da Ciência do Espaço ou da Paisagem, o sensoriamento remoto o é também.

 

2.4. O Sensoriamento Remoto e o Sistema de Informação Geográfica

Face ao desenvolvimento tecnológico cada vez mais acelerado no campo da informática (softwares e hardwares), e a opção oferecida na manipulação de dados de natureza diversa e em grandes quantidades em tempo reduzido, esta tem conquistado espaço em todas as ciências, o que tem levado à criação dos chamados "Sistemas de Informação", destinados a armazenar, processar, manipular e analisar dados de forma integrada. Um sistema de informação pode ser definido como uma combinação de recursos humanos (Peopleware) e recursos técnicos (Hardware/Software), funcionando concordantemente com uma série de procedimentos organizacionais, que proporcionam informações com a finalidade de apoiar as gestões diretivas (ROSA & BRITO, 1995).

Dentro dos Sistemas de Informação, destaca-se o Sistema de Informação Geográfica (SIG), que ligado ao campo geográfico, refere-se à "aquisição, armazenamento, manipulação, análise e apresentação de dados referidos espacialmente na superfície terrestre" (ROSA & BRITO, 1995).

O sensoriamento remoto aliado aos Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) tornam-se instrumentos ainda mais poderosos na gestão do espaço. De acordo com ROSA & BRITO (1995),

"as possibilidades oferecidas pelos SIG’s em integrar dados obtidos por sensores remotos com outros tipos de dados (de laboratório, campo, mapas etc.) permite sua aplicação nos mais variados campos relacionados às ciências da natureza". E mais: "o sensoriamento remoto possibilita a obtenção de dados de forma rápida, confiável e repetitiva, em diferentes faixas espectrais e escalas, e os SIG’s permitem a ligação dessas informações com outros tipos de produtos, tornando estas duas tecnologias complementares".

Além disso, facilita a tomada de decisões por permitir a simulação dos efeitos de determinadas ações no espaço.

"A análise de mapas com um SIG toma novas formas. Uma envolve a manipulação e apresentação dos dados interativamente, ou seja, ao invés de contar apenas com um único mapa, como usualmente acontecia no passado por razões práticas, o usuário pode rapidamente criar uma série de mapas e apresentá-los lado a lado ou seqüencialmente para obter resultados imediatos. O usuário pode movimentar as apresentações no monitor de vídeo como desejar, verificar de perto detalhes interessantes e explorar os efeitos de diferentes números e intervalos de classe, por exemplo. A segunda forma que a análise cartográfica assume é aquela de uma interface gráfica entre o usuário do sistema e os registros numéricos" (ROSA & BRITO, 1995).

Destarte, os SIG’s possibilitam que as informações sejam atualizadas constantemente, inclusive introduzir novos dados, o que permite monitorar a dinâmica dos fenômenos ao longo do tempo e do espaço. Neste sentido, os mapas convencionais, de caráter estático, vem perdendo importância nos estudos de gestão do território.

 

2.4.1. O Geographical Resource Analysis Support System (GRASS) [Nota: As informações descritas neste item, tiveram como fonte de referência os manuais do usuário do GRASS®]

O Geographical Resource Analysis Support System (GRASS) é um software desenvolvido originalmente pelos pesquisadores da Divisão de Meio Ambiente do U.S. Army Corps of Engineers Construction Research Laboratory (USA-CERL), de Champaign, IL. Ele foi destinado inicialmente para assistir ao gerenciamento de instalações militares. Hoje, o GRASS®, é um programa de processamento de imagens de domínio público, estando sendo utilizado por uma grande variedade de empresas públicas e privadas dos EUA e de outros países. No Brasil, ainda é muito pouco utilizado. O USA-CERL continua a desenvolver o software, trazendo inovações em cada nova versão, procurando facilitar a vida dos usuários.

O GRASS® é um software desenvolvido para o ambiente UNIX – um sistema operacional multitarefas e multiusuários. Hoje já conta-se com a versão do GRASS® para o sistema operacional WINDOWS.95, com o qual não teve-se acesso.

O GRASS® é um programa que requer um período de tempo bastante longo para seu aprendizado, visto a multiplicidade de comandos e a complexidade dos mesmos. Em sua versão 4.0, ele dispõe de aproximadamente 270 comandos, disponíveis para os mais diversos tipos de manipulação de imagens digitais.

Face ao incontestável desenvolvimento experimentado pelos Sistema de Informações Geográficas e pelos sistemas de processamento de imagens, os desafios impostos pelo futuro requerem que estas duas tecnologias estejam integradas, na busca da resolução dos problemas. O GRASS® foi criado no intuito de integrar estas duas tecnologias, resultando em numerosas vantagens. Quando sistemas de informações geográficas e sistemas de processamento de imagens estão integrados, não apenas dados de sensoriamento remoto podem ser usados para atualizar o SIG, mas também dados temáticos e outros atributos podem guiar o tratamento de imagens. Para uma eficiente integração SIG e processamento de imagens, o programa GRASS® oferece grandes vantagens e todo um suporte necessário.

 

 

2.5. As unidades básicas da paisagem e o zoneamento geoecológico

 

Partindo da premissa que a natureza, sob o modo de produção (ou exploração?) capitalista, não é concebida apenas como uma fonte de recursos necessários à sobrevivência humana, e sim como fonte de riquezas passíveis de gerar lucros, ela está efetivamente subjugada aos anseios de quem dela se apropria. Nesse processo, a relação estabelecida entre as duas partes, ou seja, entre o homem e a natureza, tem como resultado a criação de paisagens que passam a ser regidas por leis de duas ordens: as leis naturais e as leis sócio-econômicas ou antrópicas.

As transformações na dinâmica do meio, pós intervenção humana, resultam sempre em perdas para o sistema natural, ao mesmo tempo em que um novo agente passa a fazer parte desse sistema. Essa ruptura do equilíbrio das forças naturais, funciona como uma descontinuidade no sistema evolutivo natural da paisagem, isto é, o agente antrópico agora integrante da paisagem, passa a comandar sua evolução, impondo-lhe uma neodinâmica, de acordo com a função desempenhada pela paisagem. A paisagem, regida apenas pelas leis naturais, evolui numa dinâmica passível de se prognosticar, mesmo para um período longo. Já sob as leis sócio-econômicas, esta prognose é mais dificultosa, dada a imposição de uma dinâmica, quase sempre, contraditória às características geoecológicas do meio, aumentando o seu potencial de ocorrências catastróficas. Daí, a imprescindibilidade de um "aménagement du territoire".

Longe de dúvidas, é reafirmada a necessidade de apreender a paisagem como um sistema de relações interativas entre o sistema geoecológico e o sistema antrópico, resultando no que SÁNCHES & CARDOSO da SILVA (1995) chamam de sistema ambiental ou sistema global. Nesse contexto, tem ficado cada vez mais claro, que é preciso orientar as intervenções antrópicas na natureza a partir desse prisma, com vistas a adequar tais relações de uma forma racional, evitando catástrofes ambientais.

As paisagens apresentam-se às nossas vistas como verdadeiros mosaicos, indicando que as potencialidades geoecológicas de cada porção do espaço são diferenciadas e, por conseguinte, sugerem restrições a determinados usos, implicando na necessidade de um ordenamento do território. De acordo com SÁNCHES & CARDOSO da SILVA (1995), o ordenamento do território define-se por um processo de planejamento que "envolve uma estratégia para melhorar e disciplinar as relações entre os aspectos ecológicos e sócio-econômicos dos sistemas ambientais".

Portanto, um conveniente ordenamento do território para a ocupação, só pode ser feito mediante o reconhecimento das suas potencialidades geoecológicas. O zoneamento geoecológico ou ambiental do território é tomado como uma arma estratégica no gerenciamento da ocupação do espaço de uma forma "sistemática e prospectiva, evitando os conflitos ecológico-sociais derivados de apropriações inadequadas" (SÁNCHES & CARDOSO da SILVA, 1995), isto é, o zoneamento é um documento prático e tático frente à sustentabilidade do desenvolvimento.

De acordo com SÁNCHES & CARDOSO da SILVA (1995),

"o ato de zonear um território corresponde a um conceito geográfico de regionalização que significa desagregar o espaço em zonas ou áreas que delimitam algum tipo de especificidade ou alguns aspectos comuns, ou áreas com certa homogeneidade interna".

Os autores precisam, ainda, que o processo de zoneamento necessita de um marco de referência espacial concreta, ou seja, "uma unidade territorial perceptível, que oriente a delimitação de uma área para efeito de análise".

O resultado do processo de zoneamento geoecológico ou ambiental leva a

"um produto cartográfico que expressa o nível de conhecimento tecnológico disponível para compreender e integrar as variáveis ecológicas e sócio-econômicas e projetar o ambiente segundo suas reais potencialidades" (SÁNCHES & CARDOSO da SILVA, 1995).

Desse modo, o zoneamento geoecológico ou ambiental, por si só constitui um excelente diagnóstico ambiental e um documento geográfico ímpar, e pode ser aplicado em diferentes níveis de escala e percepção. Seus conceitos e critérios aplicam-se tanto no nível de município, quanto estado, região ou país.

Quando se propõe, neste trabalho, determinar as unidades básicas da paisagem de uma pequena porção do espaço que compreende a região de Bonito, considera-se estar contribuindo para o processo de zoneamento geoecológico regional. A delimitação da paisagem, a partir de sua dinâmica atual, ou seja, tendo como base a forma como os elementos constituintes da paisagem relacionam-se na atualidade, tenderá a mostrar as condições da evolução da paisagem e, conseqüentemente, fornecerá parâmetros para uma destinação adequada de seu uso.

A referência espacial para a determinação das unidades geoecológicas básicas da região de Bonito, é a paisagem, que encerra o conceito de entidade espacial concreta, de acordo com a concepção de BERTRAND (1971). Como descrito, a paisagem é uma categoria espacial que admite uma abordagem sistêmica, portanto, integrada e dinâmica de seus elementos constituintes, podendo ser estudada transdisciplinarmente. Alem disso, SÁNCHES & CARDOSO da SILVA (1995) assinalam que,

"os conceitos de paisagem e geossistema associam uma forma comum de análise sistêmica, com vantagens para a conceitualização de paisagem, por sugerir uma porção perceptível do espaço, ou seja, uma área concreta, descritível, analisável e projetável".

 

2.6. O fenômeno turismo

O turismo, definido como o deslocamento temporal de pessoas a determinados locais à procura de lazer, recreação ou descanso é, essencialmente, um fenômeno característico da sociedade capitalista industrial e urbanizada. Na Antigüidade, na época dos grandes impérios, as viagens tinham como objetivo apenas a conquista de terras ou a manutenção da posse, o comércio de mercadorias, peregrinações. Todavia, a partir do momento em que as populações passaram a se organizar nos centros urbanos, especialmente pós Revolução Industrial e a estruturação do capitalismo, as paisagens tornam-se também mercadorias do capital, que passam a ser exploradas como um produto, a ser vendido para o lazer, este agora mais necessário do que nunca, dada as tribulações por que passa a sociedade industrial urbanizada consumista.

A atividade turística tem seu desenvolvimento ligado, além do trabalho mecanizado – que aumentou o índice de ócio entre certa parcela da sociedade –, a algumas conquistas sociais, como o direito de férias remuneradas dos trabalhadores. O ócio, antes visto como algo negativo entre as sociedades, adquire uma nova escala de valor, agora ocupado com atividades recreativas, como o turismo. Ressalte-se que nem todo ócio acaba convertido em atividades recreativas ou turísticas.

Diante deste fenômeno, cria-se em torno da beleza das paisagens, um novo setor de atividade econômica, capaz de gerar lucros extraordinários: o turismo. Para alguns países, o turismo passou a ser a principal atividade coletora de divisas. Muitos desses países passaram a organizar-se especificamente neste setor, sendo conhecidos pelo seu potencial turístico.

A estruturação da paisagem como mercadoria de consumo para o turismo, sofre uma remodelagem, concreta ou virtual, criando, antes de tudo, uma imagem, manipulada pelo capital e pela informação. A influência do marketing moderno no processo de construção da positividade da imagem da paisagem a ser comercializada, constitui um dos fatores sine qua non de atração dos turistas. O contrário também pode ocorrer, quando são veiculados nos meios de comunicação anomalias que a paisagem apresenta ou pode vir a apresentar.

Na maioria das vezes, a exploração se dá em cima das condições naturais do lugar: clima, relevo, vegetação, águas etc. Outras vezes, são as remodelações e outros valores intrínsecos que chamam a atenção do turista: edificações, construções históricas, conforto, paz entre outros e mesmo os aspectos culturais marcantes (artesanato, culinária, festas etc.). A mídia seleciona alguns elementos que a paisagem oferece, criando uma imagem, preparando a paisagem para ser comercializada, como um produto seletivo e não de massa, isto é, apenas pequena parcela da população terá acesso aos locais turísticos bem estruturados, de acordo com o poder de compra de que dispõe.

O espaço turístico ou a paisagem-objeto de consumo tem por finalidade oferecer o máximo de conforto, agradabilidade e interatividade para o turista que o procura. Neste sentido, deve dispor de uma estrutura livre de imagens negativas, que perturbem a imagem da paisagem comercializada. Mesmo assim, as próprias conseqüências advindas da atividade turística, quando não gerenciadas, colocam constantemente em risco essa imagem.

Por outro lado, a questão da organização de um espaço que desponta para o turismo, implica necessariamente numa reorganização dos próprios valores culturais da sociedade local, quanto ao modo de apreender o espaço e o próprio comportamento individual. O seu espaço, que até então era visto apenas como seu local de vivência, doravante passa a ser encarado como uma fonte geradora de lucros. Para tanto, os fatores responsáveis pelo desencadeamento da atividade devem ser mantidos e/ou melhorados, sejam eles de ordem natural ou cultural. Neste caso, a população local deve estar preparada para bem receber o turista, assim como para divulgar seu espaço e defendê-lo contra imagens negativas. Passa por esse processo, especialmente, conscientizações relativas a questões de cunho ecológico-ambientais, além da boa recepção ao turista.

 

2.6.1. Turismo, ambiente e sociedade

Apesar do turismo ser classificado como uma atividade do setor terciário da economia, ele é envolvido por muitos fatores que o torna uma atividade geradora de problemas negativos ao meio ambiente e à sociedade. Segundo MENDONÇA (1996),

"o turismo é considerado uma indústria e, assim como os demais setores da economia moderna, depende da apropriação e exploração da natureza e das sociedades locais.(...)".

O meio físico, fonte da maioria dos atrativos turísticos de um local, isto é, a matéria-prima da indústria do turismo, ao sofrer remodelações necessárias à exploração turística, termina por introduzir desequilíbrios na dinâmica do sistema ambiental deste espaço. Estes desequilíbrios ou impactos ambientais podem ser positivos ou negativos. Em alguns casos as mudanças impostas trazem transformações que favorecem a própria dinâmica natural do ambiente. Contudo, na maioria das vezes, ocorre o oposto, onde, as modificações introduzidas no meio, culminam em fenômenos que levam apenas a uma deterioração da paisagem, isto é, o meio passa a conviver com elementos estranhos, impossíveis de adaptarem-se a uma dinâmica natural progressiva.

Por outro prisma, concebendo o turismo como uma atividade elitista, um agravante social acaba por ser gerado: a supervalorização do espaço, que traz consigo a exclusão dos nativos do espaço explorado e a especulação imobiliária. MENDONÇA (1996), confirma este fato quando diz que,

"na formação dos centros turísticos, a população nativa é freqüentemente afastada de seu local de moradia e atividade de origem. Isto se dá das mais diversas formas, seja fisicamente, vendendo sua terra e deslocando-se para outro lugar, seja participando informal e marginalmente da economia, seja menosprezando seus próprios valores culturais e submetendo-se aos novos, trazidos pelos turistas".

Na verdade, a força e a sede do capital em se multiplicar frente a uma atividade altamente lucrativa, acaba por transpor todos os obstáculos que venham surgir, mesmo às custas de uma descaracterização cultural – a principal marca de uma sociedade. Isto decorre, principalmente, em função do capital investidor (hotéis, restaurantes, agências de turismo etc.) vir quase sempre de fora. Tem-se, então, uma situação em que a população local passa a viver à margem de um circuito que lhe pertence, participando apenas passivamente do processo.

MENDONÇA (1996), ressalta ainda que,

"a desconsideração dos elementos culturais locais no planejamento e desenvolvimento de atividades turísticas está profundamente relacionada à degradação ambiental gerada na grande maioria das localidades turísticas, tanto no Brasil como no exterior, podendo encontrar-se exemplos semelhantes em todo o mundo".

A autora considera que a população nativa tem um bom conhecimento das características ecológico-ambientais do seu meio natural e que, sua participação ativa, pode dar parâmetros da sustentabilidade da atividade turística em seu espaço.


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