CAPÍTULO V - A IMAGEM ORBITAL "BONITO"
5.1. As propriedades da imagem
O sensor LANDSAT TM opera simultaneamente em 7 bandas ou canais espectrais diferentes, cada uma delas registrando propriedades de alvos diferenciados. Cada canal espectral corresponde a um determinado comprimento de onda, onde o sensor registra a radiação emitida ou refletida dos alvos naquelas faixas espectrais.
A diferenciação dos comprimentos de onda em que a radiação emitida ou refletida dos elementos terrenos atuam, permite escolher os canais de acordo como o tipo de estudo que se pretende efetuar. É importante destacar que elementos de mesma natureza, podem ser registrados diferenciadamente, o que depende do seu estado no momento do imageamento. Para sanar tais efeitos, os conhecimentos anteriores de análise e interpretação de imagens de satélites, bem como os trabalhos de campo, são requeridos. Um outro elemento, além das diferenças de tonalidades, ajuda bastante na análise e interpretação de imagens de satélites: o formato das porções do mosaico que é a imagem.
A tabela a seguir, coletada de ROSA (1995), demonstra a distribuição dos canais, bem como suas aplicações:
BANDA |
FAIXA ESPECTRAL (m m) |
APLICAÇÃO |
1 2 3 4 5 6 7 |
0,45 - 0,52 (B) 0,52 - 0,60 (G) 0,63 - 0,69 (R) 0,76 - 0,90 (IR) 1,55 - 1,75 (IR) 10,40 - 12,50 (IR) 2,08 - 2,35 (IR) |
Estudo de
sedimentos na água Mapeamento da vegetação Diferenciação de espécies vegetais Delineamento de corpos dágua e geomorfologia Uso do solo Propriedade termal do solo Identificação de minerais |
Mesmo considerando os satélites imageadores como uma revolução dentro dos estudos da superfície terrestre, estes ainda possuem um caráter bastante generalizador das informações teledetectadas. As imagens geradas pelo LANDSAT TM possuem uma resolução espectral de 30 X 30 m nas 6 bandas disponíveis (3 bandas no visível e 3 no infravermelho), o que significa que nesta área será registrado apenas um tipo de informação, correspondendo à síntese da integração de todos os elementos contidos nela. Apenas o canal 6, correspondente ao infravermelho termal, possui uma resolução de 120 X 120 m.
ROSA (1995) atenta que, para se escolher os canais mais propícios ao trabalho que se pretende realizar, deve-se considerar o coeficiente de correlação existente entre as bandas espectrais, já que esta sugere a existência de informações redundantes entre as bandas. Neste caso, deve-se escolher aquelas bandas que contenham a maior quantidade de informações úteis, ou seja, as bandas espectrais de menores correlações entre si.
Um fator limitante das imagens de satélites, são as distorções geométricas ocorrentes durante o processo de rastreamento. Podem ocorrer distorções na escala, provocadas pela variação da altitude do satélite ou deslocamentos espaciais, sofridos entre registros de épocas diferentes, provocados pelo deslocamento de órbita do sistema de eixos do sensor, resultando em um não-alinhamento das varreduras consecutivas (ROSA, 1995). As duas imagens adquiridas (1987 e 1995), embora sejam de mesma órbita, ponto e quadrante, apresentam este tipo de deslocamento espacial, podendo ser observado nas imagens de 1987 a ausência de uma porção em relação às imagens de 1995.
Observe tal fenômeno nas imagens dos respectivos anos apresentadas a seguir, antes de se fazer qualquer tipo de tratamento:
Figura 5.1 - Imagens de Satélite Originais 226.75N de 1987 e 1995 (canal 3).
Como citado anteriormente, corpos de mesma natureza podem comportar de modos diferentes dentro do espectro eletromagnético, o que depende do seu estado físico, implicando em respostas também diferentes no momento do registro. É bom atentar-se, portanto, para as datas de registro das imagens, uma vez que os elementos naturais apresentam, sazonalmente, comportamentos e características diversas. A imagem de 15/02/87 corresponde ao período de chuvas de verão, quando há intensa produção de biomassa vegetal e os corpos hídricos encontram-se em estado saturado; a imagem de 28/05/95, foi registrada no fim do outono, um período de chuvas já reduzidas, com uma perda da biomassa vegetal e uma redução na concentração de água no solo e nos leitos fluviais.
Contrastando ao exposto, ao se analisar os gráficos de precipitação das datas do imageamento, apresentados a seguir, percebe-se que a quantidade de chuvas, tanto fevereiro de 1987, quanto em maio de 1995, estiveram, basicamente, no mesmo patamar (68,5 e 58 mm, respectivamente). Além disso, nos meses anteriores a maio de 1995, ocorreram altas taxas de precipitação, podendo ser comparado numericamente, a fevereiro de 1987.
Gráfico 5.1. Precipitação em Bonito no período do imageamento
O que se quer destacar é que, em termos de umidade do solo e ar, as duas datas se eqüivalem, estando o comportamento da paisagem ligado mais à sazonalidade.
Ao se partir da teorização para a observação das imagem das duas datas, verifica-se que há uma diferença significativa entre as tonalidades tanto daquelas em tons de cinza quanto quando comparadas as mesmas composições coloridas de ambos os anos. Nas imagens registradas em 15/02/87, percebe-se que as áreas de florestas (vide Unidade Cárstica da Bodoquena, item 6.1.) e de nascente e brejões ou várzeas (vide Unidade do Formoso/Perdido, item 6.2.), possuem tonalidades e cores mais realçantes, resultantes, provavelmente, de uma maior umidade. Além destas, as áreas de pastagens (vide Unidade de Pastagens Extensivas, item 6.4.) e de cultivos (vide Unidade Agrícola, item 6.5.) também trazem diferenciações de tonalidades e cores, devido estarem na imagem de 1995 com uma produção de biomassa já reduzida; as primeiras devido à diminuição de água e as últimas por estarem no período de colheitas.
5.2. A escala têmporo-espacial
No sentido de demonstrar as transformações inseridas na paisagem da região de Bonito, optou-se por escolher dois momentos que, hipoteticamente, representam um período de maior aceleração na introdução de modificações em sua geoecologia: 1987 e 1995, isto é, o antes e o depois da verdadeira "descoberta" dos potenciais naturais da região.
O primeiro contato com a região foi em 1991, quando a região começava a despontar-se no cenário sul-matogrossense, como uma expressão turística e econômica. Em outras viagens à região ao longo desses outros anos, percebeu-se que as transformações introduzidas aceleraram-se, com tendência a ser contínua. Portanto, a opção de tomar uma imagem de uma época inicial do processo e outra, num período mais recente, com um intervalo de 8 anos, justifica-se, quando pretende-se constatar o grau de modificação introduzida num espaço de tempo considerado de pico.
Como destacado anteriormente, as imagens utilizadas neste trabalho apresentam um pequeno deslocamento de órbita, o que resultou na ausência de uma porção na imagem de 1987 em relação à imagem de 1995 (vide Fig. 5.2.). Entretanto, visto os objetivos deste trabalho, este fato não interfere diretamente nos seus resultados finais, já que a definição das unidades básicas da paisagem regional será efetuada a partir da imagem mais recente, isto é, com a imagem de 1995.
A imagem de 1987 funciona como uma forma de avaliar as mudanças introduzidas na paisagem no período compreendido entre as duas imagens. Além disso permite que se perceba as diferenças de comportamento sazonal da paisagem no processo de registro digital.
Veja a seguir a composição colorida RGB 437 da imagem de 12/02/87 da quadrícula estudada, na qual as cores avermelhadas representam, em geral, as áreas de florestas; as esverdeadas, destacam áreas muito úmidas; as cores azuladas e com tons de branco, refletem áreas de alta influência antrópica.
Figura 5.2. - Imagem 226.75N de 15/02/1987 - Composição Colorida RGB 437
A imagem de 1995 representa, a configuração mais atual da paisagem da região de Bonito. É dela que tirar-se-á o produto cartográfico final objetivado neste trabalho, revelando as unidades básicas da paisagem.
Em termos gerais, as transformações de ordem antrópica, ocorrentes na paisagem entre a imagem registrada em 1987 e a imagem de 1995, no que se refere às áreas florestais, não foram de grande expressão, até o ponto perceptível na imagem. Registrou-se um avanço de retirada florestal na Unidade Cárstica da Bodoquena (vide item 6.1.), em sua porção centro-ocidental.
Observe a seguir, a composição colorida RGB 437 da imagem de 28/05/95 da quadrícula estudada, na qual, os tons de cores refletem identicamente as mesmas unidades representadas pela imagem de 1987.
Figura 5.3. - Imagem 226.75N de 28/05/95 - Composição Colorida RGB 437
O experimento em utilizar o tratamento digital de imagens de satélites, para a definição das unidades básicas da paisagem do recorte espacial escolhido para estudo, acabou por gerar vários produtos, agora analisado. Além de interpretar, pretende-se expressar uma opinião quanto à utilização do sensoriamento remoto nos estudos geográficos.
Cada imagem digital produzida, realça aspectos diferenciados, ao se atribuir diferentes cores a cada canal. Ao se analisar as diversas composições coloridas das imagens, conseguiu-se resultados bastante precisos quanto ao tipo de objeto registrado. Nesta fase, os conhecimentos prévios do comportamento da paisagem, bem como as visitas in loco permitiram determinar com segurança as unidades básicas da paisagem.
Além da interpretação visual das composições coloridas, processou-se também uma classificação não-supervisionada da imagem trabalhada (vide Fig. 5.3.), contribuindo para determinar com segurança algumas unidades básicas. Na classificação, ficaram evidentes a Unidade do Formoso/Perdido (vide item 6.2.), apresentando cor azul-esverdeando e a Unidade Agrícola (vide item 6.5.), com cor verde. As áreas de vermelho correspondem, principalmente, às áreas de pastagens, constituindo porções da Unidade de Pastagens (vide item 6.4.).
Para se chegar à classificação, "pediu-se", inicialmente para o software classificar as informações da imagem em 15 categorias. Dessas 15 categorias, reagrupou-se, com a ajuda dos conhecimentos de campo, em 4 categorias, sendo as classes de paisagens básicas que, a priori, procurava-se identificar: florestas, pastagens, zona agrícola e zona de elevada umidade.
Ressalte-se que a classificação supervisionada da imagem, onde entra-se com informações dos tipos de paisagens, "ajudando" o software a agrupar as classes de acordo com amostras, não foi possível levar a cabo, devido a problemas técnicos com o software. Este tipo de classificação exige, previamente, um conhecimento de campo, já que ao informar as amostras ao software, parte-se do princípio que todas aquelas porções da imagem que apresentarem as mesmas propriedades, serão agrupadas em uma mesma classe, pressupondo ser o mesmo tipo de paisagem.
No capítulo seguinte, apresentar-se-á as unidades básicas da paisagem da quadrícula estudada, utilizando como "fundo", a composição colorida RGB 437, considerada como a que melhor realça as diferenciações paisagísticas.
Figura 5.3. - Classificação não-supervisionada da imagem de 28/05/95 (226.75N)
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